Análise Definitiva – Ruri Rocks A beleza em seu auge!

Josué Fraga Costa
(Redator)
Ruri Rocks
©Ruri Rocks

Ficha Técnica: Ruri Rocks (Ruri no Houseki)

Gênero: Slice of Life, Educacional, Aventura
Estúdio: Studio Bind
Diretor: Shingo Fujii
Origem: Mangá

Leia também: Primeiras Impressões – Ruri Rocks

Com a Temporada de Outono 2025 a todo vapor, chegou a hora de dar destaque para as obras que já se encerraram, da Temporada de Verão 2025. Hoje, Ruri Rocks é a estrela da vez!

Enredo

Ruri Rocks
©Ruri Rocks

Quando trouxe cá em julho de 2025 as Primeiras Impressões desta obra, citei algumas coisas que me atraíram em particular — e admito que uma delas foi um pretexto muito cara de pau. A primeira delas foi o assunto trazido, se diferenciando da longa lista com mais de trinta obras lançadas no meio do ano, a geografia. Realmente o Japão é capaz hoje de fazer algo que o Ocidente já não tem competência e técnica há tempos, trazer assuntos dos mais variados, e criar à partir deles estórias que te prendem de formas variadas, e criam experiências inimagináveis por isto.

Mesmo que eu ame geografia e seus vários tópicos, é meio complicado imaginar algo derivado que realmente seja diferenciado ao ponto de manter o espectador preso na obra com este tópico em mãos. Procurar diamantes e outras pedras preciosas é algo bem batido e manjado — mas e se a perspectiva de riquezas mudasse para uma admiração e fixação ao belo? Ao invés da ambição exacerbada pela riqueza e poder — como em Diamante de Sangue, algo mais puro e atrativo, como ver a beleza por trás das pedras e suas origens. Em parte, Ruri Rocks começa em uma transição disto, saindo do ostracismo e partindo para a beleza pura.

Ruri Rocks
©Ruri Rocks

Ruri meramente deseja ostentar pedras preciosas em si por puro capricho no começo — mas transige rapidamente, quando descobre por meio de sua mãe que seu avô as procurava em meio a natureza. E o que era vaidade, se transforma em grande estilo no motor que dá vida à Ruri Rocks. A transição plena disso ocorre quando a pequena Ruri encontra em meio a natureza, uma figura de um poder cativante impar nos animes que pude assistir em mais de duas décadas — Nagi Arato.

Ruri olha para cima, vê uma bela mulher madura com paz no olhar, e conhecimento pleno do que estava fazendo. Isso já no primeiro episódio, o qual embasei a primeira impressão. Ou seja, ao invés de uma patricinha mimada, vemos aqui o começo da transformação de fundamentos impressionantemente cativante. É até simples compor um enredo na linha natureba, como Yuru Camp ou Futari Solo Camping — basta colocar pessoas na natureza, e voilá!

Mas ir pela linha científica, descobrir que uma pedrinha que foi ao rio pode revelar o local de origem dela, e nisso, mostrar a beleza natural das florestas, rios e riachos, e do encanto da descoberta, realmente me atiçou em cheio. Ruri em um certo ponto cria anotações de suas explorações, que vem a calhar no andamento dos episódios, mostrando a evolução de sua persona egocêntrica, para uma persona maravilhada e que anseia por mais descobertas.

Personagens

Ruri Rocks
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O enredo é interessante de se acompanhar, principalmente por conta de sua unicidade, fator este de suma importância para se destacar na enorme amalgama de animações, e os personagens aqui inseridos caem como uma luva. Ruri é energética, meio preguiçosa para algumas coisas, mas incrivelmente interessada por mais, o que a leva para novas aventuras junto de Nagi, que dá a primeira ação da obra. Nagi por sua vez, atua como a catalizadora deste interesse de Ruri. Não é só uma mentora que conhece a fundo, é também a fonte de segurança e resolução da pequena Ruri — além de ser por si só, um chamariz e tanto para o anime (mais disso à frente).

Ambas são as chamarizes de outras personagens de apoio, que desenvolvem um senso de apoio importante ao enredo. Por parte de Nagi, Youko Imari é outra grande conhecedora de mineralogia, só que se contrasta com Nagi de maneira bem bolada. Ela é a exploradora, cautelosa, responsável, que pesquisa por fontes, apesar de ser um pouco desorganizada. Youko é mais organizada, porém, mais apegada à literatura, não sendo tão aventureira quanto sua veterana.

Ruri Rocks
©Ruri Rocks

Ruri então passa a ser guiada por ambas, e o balanço entre as duas personagens aqui é bem utilizado em toda obra, tanto nas gags e piadas, quanto no andamento dos episódios. Ao passar dos episódios, outra personagem agrega ao time de mineralogia — Shouko Seto, o contraste de Ruri. Ao contrário da loirinha, Shouko ama pedras e minerais, é organizada e mais dedicada aos estudos, e juntas, funcionam como uma versão um pouco mais jovens de Nagi e Youko. Aoi Kasamaru é outra que se une, só que esta, bem mais tardia.

É uma gal tal qual Ruri, só que bem mais…como posso dizer…relevante. Já no primeiro episódio, aparece junta de Ruri, mas só veio a aparecer mais no final da saga, e não desdenhando da paixão de Ruri pelas pedras. É mais utilizada no mangá do que no anime. Senti uma pequena falha em não explorá-la mais, já que faz parte da transição de Ruri, nesta jornada mineralógica. Surpreendentemente, o anime é tocado para frente nestas cinco personagens, com aparições bem pontuais da mãe de Ruri. O que me surpreendeu aqui é a dinâmica de grupo utilizada, na qual não transformou os episódios em peças repetitivas e simplórias, principalmente a naturalidade com que as cenas se desenvolvem até o final.

Não é algo recente e particularmente novo, mas animes com o núcleo feminino estão sendo muito interessantes de se acompanhar. Isso desde Lucky Star, Azumanga Daioh, Ichigo Mashimaro, até Nishijou e Yuyushiki. Mesmo em Sailor Moon há vilões e mocinhos, e aqui, o único homem dá as caras no último episódio. Aqui, cada personagem não é mero rostinho bonito — cada uma tem massa cinzenta e estrutura definida.

Ritmo e atmosfera

Ruri Rocks
©Ruri Rocks

Diferente de verdadeiros lixos como High Guardian Spice, a valorização feminina aqui transcende conceitos físicos e dá importância ao individual, com cada uma tendo características distintas que as tornam únicas para o enredo, contemporizando isto ao grupo — onde juntas, dão brilho e sentido à obra. O arquétipo aqui é o do mestre e discípulo, não em um superar o outro, mas no sentido de passar o bastão para um amanhã.

Ruri desenvolve seu interesse por rochas e se aprofunda ao ponto de estar em um laboratório, trabalhando sua paciência em experimentos consecutivamente, seguindo os passos de Nagi. Semelhantemente, Shouko ao entrar mais para o final da série, encontra em Youko uma figura de liderança, o que deixa o anime com um corpo bem definido e estruturado. Todos os episódios são um aprendizado completo, não somente para Ruri, e posteriormente para Shouko. Não é meramente uma aventura em minas e cavernas, tudo há algum tipo de ensino sobre aquele lugar e sua particularidade.

Ruri Rocks
©Ruri Rocks

E tudo ocorre de forma didática, digna de um curso preparatório. Nagi e Youko vão explicando sobre os minerais e suas origens de forma que te faz imergir neste mundo. Informativos aparecem sempre que alguma explicação é dada, e não quebram o andamento dos episódios — digo que até atiça uma fagulha de interesse em estudar. Descobrir que uma pedra tem uma determinada coloração por conta de sua formação geológica, exposição a um determinado minério, e sedimentado em um local, e tudo isto durante as explorações em campo, e as atividades em laboratório, dão uma cara diferente em Ruri Rocks.

E por meio disto, você compreende aos tantos o interesse crescente de Ruri naquilo, até o ápice da obra, quando ela decide o que quer fazer no futuro, após tantas descobertas fascinantes, não só a caráter técnico, mas ao brilho que resplandece na alma. É crescente, orgânico, e muito belo, como toda descoberta científica deve ser. O desfecho é ainda mais emblemático desta estrutura de mestre e discípulo, quando Ruri aparece crescida, encorpada, na mesma pose de Nagi, no final do anime — momento cinema absoluto!

Ruri Rocks
©Ruri Rocks

Outro momento marcante foi quanto todas juntas, descobriram o rádio de cristal que o avô de Ruri possuía. Fizeram o rádio funcionar, e o que estava tocando por ele? A música tema de abertura, outra bela adição a experiência gerada para conectar o espectador ao âmago da obra.

Gosto do que Dr. Stone fez em relação a ciência, descobrimento e fundações, e tudo isso com ação e muita comédia, mas Ruri tocou em mim de tal forma que somente a música conseguiu fazer, alcançar a beleza humanamente possível. Não há aqui grandes superações, brigas e conflitos, mas sim, a trajetória do conhecimento e seu ápice pessoal. Quando se vê Ruri mergulhando no rio e achando um pedaço de ouro raro, ou revendo anotações para corrigir uma falha experimental, você aprofunda junto à ela nessa jornada. Criando uma atmosfera sublime de conhecimento e beleza — e tudo isso, não sendo subjetivo, mas direto, por meio da protagonista que dá nome a obra.

Design e animação

Ruri Rocks
©Ruri Rocks

O anime é imerso na natureza, com cavernas, minas abandonadas no meio de densas florestas, praia e rios, e paredões de quartzo, sendo o cenário da obra. E com tal background, acertaram a mão na animação, dando um charme cativante ao espectador, sendo um baita trabalho dos Studios Bind, com produção de Tomoyuki Oowada, e direção de Shingo Fujii, que também ficou responsável pela roteirização visual do primeiro e do último episódio.

Keiichirou Shibuya, mangaká de Ruri Rocks, roteirista e artista da obra, tem realmente um bom gosto. Até então, o autor teve somente outros dois mangás escritos, e bem menos conhecidos: Daikagaku Shoujo e Musunde, Tsumuide, com fortes influências da demografia shoujo. Daikagaku em específico, adota um tom de descobertas, e aposto que Ruri Rocks desenvolveu a um ponto de destaque. Os traços usados por ele são belos, humanos ao ponto de dar identidade a cada personagem. Ruri é uma gal, com cabelo loiro, constituição de mocinha, sempre delicada, ao mesmo tempo, que energética.

Ruri Rocks
©Ruri Rocks

Shouko é mais contida em sua personalidade, e isto se reflete em um design mais discreto, cabelo escuro, sempre com uma expressão mais neutra e contida. Youko é madura, seu cabelo em dois tons mostra que há energia dentro dela, e mostra o lado mais atrapalhado que possui. Seu corpo é curvilíneo, sensual sem vulgaridades, e sua postura transmite confiança, mostrando também ser um pouco mais contida do que sua veterana, Nagi. E esta, por si só, merece uma análise própria.

Nagi é o tal pretexto para que eu tenha visto a Ruri Rocks, e meio que…tocou em algumas de minhas fraquezas. Olhe para esta mulher, e diga, não seria o tipo de pessoa com quem você desejaria se relacionar? Entendo como que Ruri logo de cara se conectou à ela. Ela tem postura de líder, confiante, exuberante, quase como um puro sangue pronto para correr no hipódromo. Tem um corpo de deixar qualquer um babando litros, ao mesmo tempo em que não se vulgariza. Apesar de que é certo que os animadores aproveitaram bem o tempo de tela da personagem, já que não é difícil de achar fotos dela no anime. Até uma cena dela com roupa maid fizeram no episódio nove.

Ruri Rocks
©Ruri Rocks

Ela é uma figura de confiança, imponência passiva, que inspira e cativa de cara, como o que ocorreu com Ruri. Cada uma das personagens possuem atração, beleza própria, e destaque independente. Se parar para pensar, ter um elenco mais enxuto, ajuda cada personagem a ter seu destaque em cada episódio. E quando você coloca belas figuras femininas — e reforço isto em meu texto “A Verdadeira Beleza Feminina“, com sentido e relevância, e tudo isto num belo cenário natural, a combinação é de alto nível.

A animação em si não economiza em transições suaves e detalhadas, sombras e efeitos de iluminação dignos de um quadro pintado sobre óleo. É fluida, particularmente detalhada — ainda mais se pensar que é uma obra slice of life e educacional. Corpos tem tato e física aplicada, a água realmente flui como deveria, e cada pedra tem uma atenção dada. Arrisco dizer que é uma das obras mais belas de 2025, e olha que o design não é tão chamativo quanto de Tougen Anki ou Sanda — animações com traços mais diferenciados, mas fizeram um trabalho realmente diferenciado.

Trilha sonora e composição

Ruri Rocks
©Ruri Rocks

Outra coisa que me atraiu em particular, para além da geologia, rostos bonitos, um visual cativante da Nag…quero dizer, natureza, é a bela ambientação trazida. Se a atmosfera de ensino e descobertas já atiçou a qualquer um com bom senso, a ambientação é a chamada de classe para completar a proposta. Não existe um único episódio que lhe dê a sensação de dejavu, pois realmente, cada lugar e descoberta são únicos. A precisão geográfica com o qual a obra aborda é de encher os olhos de qualquer um que goste da área, como este que vos fala.

E a trilha sonora dá um respaldo técnico que poucas vezes vi num anime, ainda mais um com meros treze episódios. Lucky Star e Azumangah Daioh tem trilhas sonoras que já estão no imaginário do fã mais experiente de animes, com cada anime tendo sua identidade revelada em sua trilha sonora. Ruri possui algo em semelhante com estes dois animes: ‘Um passo de cada vez‘ (一歩ずつ), ‘Encontrei‘ (見つけた), ‘Ruri‘ (瑠璃), ‘Vínculo‘ (繋がり), ‘Terra Secreta‘ (秘境), ‘Com meus próprios olhos‘ (自分の目で), servem como DNA harmônico da obra. (ouça a trilha sonora completa)

Nova Descoberta‘ (新しい発見) serve como o tema da obra, e toda elas com uma beleza difícil de se achar em meras trilhas sonoras de animes comuns. É fácil falar do tema arrebatador de Castelo Infinito em Kimetsu no Yaiba — quase como um épico grego, mas é difícil achar em animes mais convencionais algo de tão bom gosto musical. Daisuke Achiwa e Kazuki Yanagawa, conhecidos por seus trabalhos na saga de jogos Atelier, criaram aqui uma experiência realmente única.

Notas

Ruri Rocks
©Ruri Rocks

Animação: De todos os animes que trouxe até aqui em 2025, Ruri Rocks certamente está no pódio dentre os melhores neste tópico, somente atrás da loucura cativante de City: The Animation, e Lazarus. É fluido, tem cores, transmite vida, além de mostrar a natureza por uma ótica artística de muito bom gosto. 9.0/10

Arte Gráfica: Se a Nagi não te atraiu, nem o meio ambiente, você já morreu por dentro. Com traços singelos e expressivos, cada quadro é bem montado e apresentado. Pode não ser tão especial quanto de outros animes do ano, o que o faz perder um ponto essencial, mas está acima da média — ainda mais se levar que é uma obra slice of life e educacional. 8.0/10

Personagens e Enredo: A sinergia entre as personagens, em uma proposta pouco convencional em animações. É forte e a transforma numa obra de destaque subestimada. Um núcleo enxuto tem suas vantagens, e cada personagem aqui tem parte na obra. No geral, pode passar debaixo do radar, mas não decepciona. 8.5/10

Trilha Sonora e Ambientação: Fora de obras graúdas, procure por algo tão interessante e diferente, e falhe miseravelmente. Sou muito tendencioso neste tópico, sendo músico, mas não tem como negar que a trilha sonora é absolutamente linda, e agrega a um ambiente que necessita da delicadeza sonora para se impor. A ambientação natural é bem explorada, e transmite todo o enredo de forma encantadora e apaixonante. 10/10

Geral: Uma beleza sublime, é como defino Ruri Rocks. É tão bom ver a natureza em sua forma mais cientifica, e mais, ver pessoas interessadas nisto de fato. E ver Ruri desenvolver um interesse que transcende o material, enche os olhos. Fora que ver tantas mulheres tão lindas, cada uma de sua forma, típico dos japoneses, deve ser valorizado! 8.8/10

Veredito

Ruri Rocks
©Ruri Rocks

Se você deseja conhecer algo diferente do habitual, Ruri Rocks será sua escolha. É ótimo para o almoço, mas sua didática imersiva, o transforma numa experiência única entre os animes, principalmente os que foram lançados na Temporada de Verão 2025, uma obra ÍMPAR!

O desenvolvimento dos episódios é rápido e muito preciso no que quer evocar em cada episódio. O final com a Ruri crescida — provavelmente na casa dos vinte anos, como Nagi durante o anime, tirou um sorriso honesto deste brutamontes ácido de outras análises e textos aqui. É bom sair de vez em quando do habitual nos animes, e pela experiência que entrega, Ruri Rocks sai muito forte de 2025, como uma bela promessa em premiações futuras.


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