Essas palavras — ditas por um pequeno polvo alienígena com olhos doces e corpo cor-de-rosa — se transformam em uma faca no peito ao final da jornada de Takopii no Genzai. O que parecia ser uma história fofa sobre amizade e superação se revela uma das narrativas mais dolorosas e ousadas da ficção contemporânea. Criado por Taizan5, o mangá (e agora também anime) não tem medo de olhar para o abismo da alma humana. E, pior: nos força a olhar junto.
Em um planeta onde a felicidade é controlada, Takopii foge de sua espécie para trazer alegria à Terra. Ele chega em 2016, conhecendo Shizuka, uma menina solitária, silenciosa, que sofre com bullying, negligência familiar e uma escuridão emocional imensa. Determinado a ajudar, Takopii usa seus “dispositivos de felicidade” para tentar mudar a vida dela — mas cada ação inocente desencadeia consequências cada vez mais catastróficas.
Conflitos com Marina, a bully da escola, culminam em morte, culpa, e uma sucessão de eventos que envolvem viagens no tempo, memórias apagadas e o colapso mental de todos os envolvidos. E a pergunta se instala: é possível salvar alguém sem entender sua dor?
A narrativa é contada em camadas — primeiro como drama infantil, depois como tragédia psicológica, e por fim como fábula sci-fi de desconstrução existencial. A produção do anime acompanha esse tom, com visuais que transitam entre o leve e o perturbador, e uma trilha sonora agridoce que parece chorar junto com os personagens. A performance de voz de Shizuka e Takopii é especialmente arrebatadora, carregando nuances de trauma e doçura com precisão cirúrgica.
Nos episódios finais, a revelação do passado de Takopii muda tudo: Marina foi a primeira humana que ele conheceu e salvou, mas ao alterar o tempo e esquecer disso, acabou matando-a em outra linha temporal. No presente, Shizuka assume a culpa por tudo. Já Takopii, ao perceber que só causou mais dor, se entrega.
Depois de múltiplas linhas temporais, mortes, tentativas de consertar o passado e memórias esquecidas, chegamos ao clímax inevitável: Takopii percebe que sua presença não trouxe felicidade para ninguém. Pelo contrário — ele interferiu, distorceu, e multiplicou o sofrimento de duas garotas que já estavam à beira do colapso: Shizuka e Marina.
No final, Shizuka — corrompida, quebrada por anos de abuso e marcada pela tragédia — assume a culpa por tudo. E o que restou de sua inocência morre ali. A própria justiça humana não consegue lidar com tamanha complexidade. Já Marina… sobrevive, mas carrega o peso daquilo que presenciou e provocou, sendo ao mesmo tempo vítima e vilã.
E Takopii? Takopii é executado por sua própria espécie, os Happy, após ser capturado por sua mãe, a líder autoritária que considera sentimentos humanos um erro. Ele é punido como traidor. Mas antes de morrer, Takopii sorri. Porque, de algum jeito trágico, ele aprendeu o que é ser humano.
Takopii no Genzai é um mangá curto — apenas 16 capítulos — mas denso, afiado e inesquecível. Cada episódio do anime é um soco no estômago. A série não entrega esperança fácil, nem finais felizes. Ela entrega verdade emocional. E uma reflexão profunda sobre como boas intenções podem ser venenosas, como a dor molda as pessoas, e como tentar “curar” alguém sem ouvi-lo pode destruí-lo ainda mais. Takopii no Genzai é um dos mangás/animes mais tristes já produzidos — e ao mesmo tempo, um dos mais humanos. Uma obra que deveria ser estudada, não apenas lida e assistida. Você não vai sair ileso. Mas talvez, assim como Takopii… você aprenda o que significa sentir.
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