Os últimos meses têm sido um período de observação e ponderação para mim, no que tange o cenário artístico atual no qual o Ocidente e Oriente passam. Principalmente no conceito de personagens e suas dinâmicas em cada obra, que vem ganhando cada vez mais atenção do público em geral, pois se tornou notório até mesmo pelo mais básico dos espectadores.
É o choque que ocorre quando você vive o bastante para estar longe de ser velho, mas tem memória o bastante para lembrar da sua infância/adolescência como se fosse ontem, ou seja, se você tem entre 25 e 38, ou mesmo na casa dos 40. Você ainda tem memória para saber o que te atraia numa obra, personagem, enredo, design, dos anos 90 e começo dos anos 2000.
Naruto ressonava nos garotos em minha infância por ser um personagem energético, garoto como nós da época, e que tinha um background que continha alguma rejeição, principalmente em grupos como os da escola.
As Meninas Superpoderosas fizeram sucesso entre nós homens na época por conta da personalidade única de cada uma das três protagonistas, com a Florzinha sendo a meiga e cabeça das três, a Lindinha sendo graciosa e gentil, e a Docinho sendo a tomboy energética.
Arquétipos que são usados até os dias de hoje em milhares de personagens femininas. Como tomboy, temos exemplos como a Tomo de Tomo-chan, graciosas como a Lindinha tem várias, a Ririsa de Ririsa, Uma Garota em 2.5D é uma delas. E se formos nas cabeças de grupo, como a Sakaki de Azumanga Daioh, aí veríamos uma lista interessante. Sabe qual era o atrativo das superpoderosas? Cada personagem era especial por ser única em sua forma.
E já que citei Azumanga Daioh, carrego a mesma percepção para a obra. Um grupo de meninas colegiais, e com exceção da Chiyo, todas são adolescentes encaminhando para a faculdade, mas ainda assim, com cada uma do grupo sendo única por ser diferente. É claro que todos ao falar da obra se lembram da Osaka e sua…”lentidão” em perceber as coisas.
Mas a graça da obra é vermos mulheres que normalmente encontramos no dia-dia, ainda mais especificamente o dia-dia japonês, mas que são de qualquer forma, arquétipos reais até mesmo aqui no Brasil. Todos conhecem alguma mulher, e até mesmo homens (voltarei nisso mais a frente), que possuem estes traço de personalidade.
Uma criança prodígio como a Chiyo, uma maluca que possivelmente tem alimentação a plutônio como a Tomo, uma desportista e levemente burra como a Kagura, uma pessoa um pouco mais madura, mas com toques da infância bem escondidos como a Yomi, uma professora maluca e da resenha como a Yukari, ou uma professora pacífica e admirada como a Minamo.
Para além do aspecto físico, e este é o grande ponto desta matéria, era isso que nos atraia nas personagens tanto em cartoons, quanto em animes japoneses. Obviamente o fator físico da atração existe, como no caso da Yoruichi, Rangiku, e qualquer outra mulher de Bleach, mas nunca se resumiam a isso. Yoruichi é atlética, estrategista, se tornou capitã no seireitei para além das conexões de sua família.
Rangiku pode ser voluptuosa, mas não deixou a seriedade em combate, além de sua confiança e maturidade notórias. Sabia que era formosa, e não se afastava dos homens com algum nível de arrogância ou prepotência. E nós tínhamos tudo isso aqui mesmo no Ocidente, várias personagens diferentes e que prendiam nossa atenção por várias razões.
O que está se esclarecendo a cada obra nova lançada neste canto do mundo é a falta de variedade, junto com a padronização que espanta a audiência, levando-a para os sul coreanos e japoneses. A figura da mulher nas obras ocidentais se resume a:
- Prepotência/Arrogância: Comportamentos que geralmente afastam o contato com pessoas normais, exibidas em uma autoconfiança mesquinha e falta de confiança em outrem;
- Uso incorreto de poder: Quando com poderes, atuam de maneira extravagante e inconveniente;
- Rebaixar ou menosprezar o homem em suas ações: Até a Makima dava espaço aos homens com mais crédito, do que a maior parte das figuras de liderança femininas;
- Falsa liderança: Unindo todas os pontos anteriores, o final lida a uma quebra no conceito de ser líder, principalmente enfatizando o fato da personagem ser mulher.
E é aqui onde eu engrosso o caldo e afirmo, MULHERES NA LIDERANÇA NÃO SÃO O PROBLEMA! A minha úlcera atiça todas as vezes que vejo pessoas de maneira errante fazerem este tipo de colocação. Geralmente essas pessoas estão ligadas diretamente ou indiretamente às produções fracassadas, e jogando a culpa do fracasso nessa colocação, e obviamente, no colo dos homens.
Ora bolas, com exceção da Índia, onde a maior parte da população não é de mulheres, o que pode ser um problema para se manter a linha genealógica daquele povo, TODOS OS PAÍSES possuem maioria feminina na população. Será que somente nós homens não toleramos mais a este estado das coisas, onde não aceitamos a este arquétipo falso das mulheres?
Eu creio que não, ainda mais por que aqui dentro da Anime United, nossas mulheres hão de concordar comigo nessa! Até por que, se tem algo que constantemente estamos falando, mostrando fotos e vídeos, geralmente das cenas de animes e mangás, é exatamente sobre personagens femininas! As vezes até penso se não estamos mais vendo as personagens do que o enredo em si.
E não é de hoje, se eu tiver que fazer uma pesquisa para saber quantas mulheres são personagens centrais, principais, de grande relevância à trama, ou com alguma notoriedade qualquer, eu faria uma revista do tamanho combinado de matérias que fiz aqui, e com esta, já são 140!
Ora, então, se os animes estão abarrotados de mulheres incríveis e de destaque, por que estas obras não estão fracassando com o público? Simples, gafanhoto! Não estão fracassando, pois eles têm tudo aquilo que homens e mulheres desejam ver, ter e ser. Não queremos uma sucessora forçada de um grande herói, que não entrega nada daquilo que fazia seu antecessor tão famoso. Estou falando de você, Coração de Ferro!
Muito menos, exibições de mulheres insuportáveis, como a Capitã Marvel, que constantemente se distancia dos homens e/ou os humilha, ou não é meramente agradável com sua arrogância. E na vida real, a atriz dela era conhecida nas gravações tal como sua personagem. Irônico, não?
O pior disso tudo é que isto não é a doença em si, e sim os sintomas dela. Permita-me explicar do que realmente se trata. Desde o começo da difusão de obras, pelo teatro por exemplo, com os gregos no século VI antes de Cristo, personagens foram criados para compor a uma sofisticada forma de analogias poderosas, basta ler os clássicos Inferno de Dante e Divina Comédia, onde eles usam de detalhes religiosos em suas composições de enredo e personagens.
Hoje, dificilmente fariam algo sem que o objetivo fosse o de ofender gratuitamente e até vilipendiar a fé alheia, até porque a maior parte hoje dos escritores por trás destes fracassos, e estando em altas produtoras, são analfabetos funcionais, então, não compreenderiam a natureza religiosa, tal como não compreendem como as personas funcionam. A falta de compreensão de simbolismos que rodeiam e norteiam a humanidade, acaba por ser danosa à arte.
E isto se carrega para personagens femininas em filmes, séries e animações mais recentes. Personagens idealizadas por uma militância tosca, que não tem embasamento literário suficiente nem para compreender as diferenças entre mais, mas e más.
Não se estranhe de ter visto diálogos ruins aos montes, é a mera falta de compreensão linguística do próprio idioma, assim como querem chamar de “pilota” às mulheres que pilotam, sendo que piloto é substantivo de gênero neutro.
Se não são capazes de soletrar no próprio idioma, como esperar que dali saia algo decente? De forma alguma, já que não há como se esperar algo do nada! Estão alimentando um monstro há anos, e ele por sua vez tem causado estragos por onde passa. Estamos vendo há anos uma guerra de sexos destrutiva para ambos os lados, e isso tem resvalado na criação de personagens no audiovisual.
No ano passado, quando estava indo a Brasília cobrir a BGF, cheguei na rodoviária e peguei o metrô para ir à casa de meus parentes. Entrei na estação, embarquei no vagão, e comecei a perceber que estava sendo observado, e só tinham mulheres. Quando olhei um pouco mais no vagão, vi a mensagem de que era EXCLUSIVO DE MULHERES. Me tranquei de cabo a rabo, e na estação seguinte, saí correndo para o outro vagão, onde vi mais mulheres nele, mas era o vagão comum. Detalhe, não andava de metrô por lá havia uns 12 anos.
Uma mulher falou a mim que não gosta da ideia do vagão exclusivo para mulheres. Pela primeira vez fiquei com medo de estar perto de mulheres, por que criaram ao longo dos últimos anos artifícios de segurança para a mulher, que na realidade, estão afastando homens das mulheres e vice-versa.
Este distanciamento está causando certas paranoias dentro da sociedade ocidental, tais quais a Madame Teia, Coração de Ferro, e outras obras forçando mulheres a um arquétipo patético e nem um pouco atrativo. Mulheres totalmente idealizadas para representar este atual momento da sociedade, e isso está sendo danoso.
Ao ponto que de fato, nem mesmo uma mulher comum está suportando que a retratem desta forma, pois não é real! A grande verdade por trás do desastre de modelo feminino de liderança é justamente a falta de realidade na equação, onde há falhas que geram erros, que por sua vez, trazem consequências.
Um modelo onde propõe que a mulher nunca erre, ou que não precise de treinamentos e preparações, não é atrativo de forma alguma, pois falta humanidade na equação. E o que atraia a atenção do público para filmes como Carros ou Robôs, era exatamente este aspecto realístico sobre a humanidade.
O que então faz com que as personagens orientais sejam admiradas e tão comentadas por nós aqui no Ocidente? Pego o exemplo de personagens recentes. Takao Ameku de Ameku Takao no Suiri Karte é uma doutora genial em diagnosticar doenças, solucionar tratamentos, e identificar problemas que ao doutorado comum, não é tão fácil.
Mas por ser genial, ela acaba gerando dinâmicas ruins, e no anime, quase foi demitida do hospital de sua família, quando por um caso não solucionado completamente de um paciente, quase tudo se complicou. Ela ainda é reclusa, tem problemas constantes com outros médicos em seu hospital, mas consegue redenção posterior, ainda mostrando que há um ser humano com suas sensibilidades em relação a sua profissão.
Maomao se tornou um ícone por conta própria em Diários de uma Apotecária, e tal qual Takao, é uma mulher genial e geniosa, acaba gerando dinâmicas de desgaste, as vezes ficando um tanto quanto soberba, até um tapa na cara ela recebeu, mas tudo se resolve. Ambas tem defeitos por conta de seus pontos fortes, e por conta disso atraem os fãs, pois demonstram solidez em suas constituições.
Volto a citar um ponto no começo do texto, onde falo sobre os traços de personalidade que existem em outras mulheres, mas também em homens. Eu mesmo já me identifiquei em partes com a Ai Hayasaka de Kaguya-sama, Love is War. Eu já tive amigas que estavam todas apaixonadas, mas eram tapadas o bastante para chegar nos caras, e tive de agir de cupido por várias vezes, passando raiva no processo.
Retsu Unohana nas primeiras aparições em Bleach tem uma calmaria que chega a assustar outros capitães do Seireitei, tal qual o líder dos caçadores de oni em Kimetsu no Yaiba, Kagaya Ubuyashiki. Ambos sendo grandes guerreiros por trás da aparência pacifica que demonstram inicialmente, ou seja, até mesmo uma persona pode ser replicada tanto em homens quanto em mulheres.
Logo, por vezes, nós homens podemos nos identificar com personagens femininas, pois há humanidade nelas. E por conta disso, encontrar mulheres que estão em uma situação como a nossa, ou ter traços de personalidade que se aproximem ou repliquem as nossas, ter empatia por elas não é uma loucura.
E ainda tem outro tópico que é discutido de forma no mínimo errática por estes malucos que estão à frente da cultura ocidental, a aparência e beleza das personagens orientais. Falam da sexualização pelos japoneses e bla bla bla, enquanto apoiam por aqui Onlyfans e outros sites com conteúdo pornô.
A velha hipocrisia que nunca morre, mas está ficando mais evidente neste caso. Nunca se viu retratando mulheres de forma tão feia e repugnante como hoje, e forçam uma barra para cima das personagens do Japão. Lembram quando falaram que a Uzaki de Uzaki-chan wa Asobitai, se parecia com uma criança? Ou mesmo indo longe o bastante para compará-la com um bebê?
Um corpo desenvolvido de mulher, e ainda queriam força aquela coisa que começa com P e acaba com filia. Mostram o quão desesperados estão em destruir a imagem atrativa da mulher que os japoneses, sul coreanos e até os chineses, estão trazendo para o mundo. Mas ignoram algo que todo otaku médio sabe muito bem, só a beleza corporal não atrai.
Preciso mesmo falar sobre a Malty S. Melromarc de The Rising of the Shield Hero? Começou como uma grande figura amável, até Naofumi descobrir a trama por trás disso, e descobrir que Malty era uma vigarista e traidora de marca maior. E a Rachell de Tower of God? Quer mesmo que eu chegue lá? Nem me faça falar da Makima de Chainsaw Man.
A lista é grande, mostrando que a beleza somente não vende e não rende, muito pelo contrário. E não é algo que os orientais criaram, o Ocidente usou por diversas vezes a isto, como em Enrolados, a Gothel, uma coroa sensacional, com R34 a rodo na Internet, era uma vilã incontestável. A mesma Disney nos anos 30, fez a mesma coisa com a rainha má, era uma coroa bela, mas sem um bom coração, enquanto a beleza da Branca de Neve era destacada por conta de seu belo caráter.
A beleza é um recurso que falta, e voltando ao detalhe da falta de conhecimento de símbolos, essa falta grosseira corrompe qualquer mente. Pois, a beleza física sozinha não se sustenta, já que a idade chega para todos, mas ela é ressaltada verdadeiramente por conta da boa personalidade da pessoa.
Ou vocês acham que gostamos das mães de animes, como as mães de personagens como da Tomo, da Uzaki, da Komi, da Yui Yuigahama, e me segurem, senão fico dando exemplos de belas mães até o ano que vem! Diferente do que falam por aí, como “problemas com a mãe”, é o extremamente oposto. O físico de fato é mero detalhe, mas ser feia e ter uma persona ruim, não está ajudando em “quebrar padrões”.
Boas personagens não são meros rostinhos bonitos e em grande estado, olha o apelo e carisma que a Nell de Clevatess está tendo por parte da audiência de um dos grandes animes da temporada, mesmo sem dentes, totalmente mau arrumada, ainda sim nos atrai em algum ponto.
Meu ponto é, mesmo mulheres um pouco mais musculosas, como a Gagaran de Overlord, ainda podem ser mais atrativas e interessantes do que qualquer coisa que estão enfiando em nossa goela. O Oriente acerta na variedade de personalidades e designs, além de propor um pingo de realismo, e destaca isso em praticamente toda obra.
Até a literatura cristã destaca o valor de uma boa persona, quando em 1ª Pedro 3:3-4 diz; “Vistam-se com a beleza que vem de dentro e que não desaparece, a beleza de um espírito amável e sereno, tão precioso para Deus.” Uma personalidade atrativa realça qualquer design, pode ser uma Rukia, onde a simplicidade é o bastante, ou uma Rangiku, Isane Kotetsu, Retsu Unohana, onde curvas impactam com força.
Loiras, morenas, pretas ou brancas, magras ou cheinhas, onde a personalidade de qualquer uma é valorizada e casa com seu design. Onde força coexiste com certas fraquezas e limitações. O Ocidente peca em não retratar a beleza que há na realidade, e focou tudo em algo artificial, como se fosse trabalho de fanfics.
A maioria dos designs japoneses são bem parecidos, com um ou outro tendo um visual diferenciado. Mas é um design que afasta a feiura por simplesmente ser superior desde sua base, onde doutrinar não é o objetivo, muito menos esperado como fruto decorrente, mas onde o bom autor sabe o que seu respectivo público quer.
Vi outro vídeo onde uma youtuber gringa fala da razão por trás do sucesso entre as mulheres em Sono Bisque Doll, apesar do fan service. Vou recomendar que vocês vejam, e entenderão que as mulheres curtem ecchi, curtem belos personagens, e estão compreendendo o que a atração realmente significa.
Até por que, a obra é de uma mulher no final das contas. A beleza não é algo para somente os homens, é para todo ser humano normal. A beleza é algo divino, que quando não valorizada, afasta a qualquer um. Chega de achar a feiura como algo normal, pois isso está acabando com algo único e exclusivo das mulheres, a feminilidade. Sem isso, não há como destacar uma mulher de maneira alguma.
Até aquela loirinha da pensão que Peter Parker estava morando no segundo filme, é bem lembrada pelos fãs, apesar da falta de tempo em tela. Sua simplicidade e simpatia marcaram, mesmo sendo uma personagem meramente para compor cena. Ou o Ocidente compreende que beleza não é um artificio pornográfico, ou continuarão a fracassar, principalmente com as mulheres!
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