A FILOSOFIA DE MORTE EM KAMISAMA NO INAI NICHIYOUBI O anime que nos faz lidar com duras perdas e sofrimentos em apenas 12 episódios

Bolinhodearroz
Kamisama No Inai Nichiyoubi
©MadHouse/Kamisama No Inai Nichiyoubi

“Deus criou o mundo na segunda-feira. Na terça-feira, Ele separou a luz das trevas. Na quarta-feira, Ele criou e organizou os números. Na quinta-feira, Ele criou o fluxo do tempo. Na sexta-feira, Deus examinou cada fenda e canto do mundo. No sábado, Ele descansou. E no domingo, Deus… abandonou o mundo. ”

Em um mundo onde Deus abandonou a humanidade, com o céu e o inferno cheios, as pessoas pararam de morrer. Mesmo que seus corações parassem ou que seus corpos apodreçam, os seres humanos continuam andando sobre a terra (meio que como mortos-vivos, mas ainda com sua consciência intacta e “vivendo normalmente”), então Deus concedeu um último milagre e criou os chamados “Coveiros” (ou Hakamoris), seres que possuem a capacidade de conceder que as pessoas morressem de verdade e tenham seu sono eterno após enterrá-los.

E é com essa introdução que começa o anime Kamisama No Inai Nichiyoubi (Sunday Without God), nos apresentando Ai, uma garotinha que mora em uma pequena vila e perdeu sua mãe aos 7 anos, que era a coveira daquele lugar, transformando, assim, a garota na nova coveira. Portanto, uma imensa responsabilidade para um ser tão pequeno e frágil.

Ai foi criada por um jovem casal, Anna e Yohki, que são extremamente gentis com ela, mas a menina ainda sente algo estranho e sempre lembra que possui um pai que vaga pelo mundo afora, mas não se interessa tanto porque se sente feliz com aquelas pessoas do vilarejo onde mora.

De repente, um estranho rapaz aparece no local e, já de cara, aponta uma arma para a menina. Assim começa as emoções e ainda no primeiro episódio, com Ai querendo saber quem era aquele homem estranho e ele procurando por uma determinada mulher, morta ou viva, chamada Hana. No meio desse encontro inesperado, Ai percebe que o nome daquele rapaz é o mesmo de seu pai, Hampnie Hambart, associando, assim, como sendo ele a figura paterna que ela tanto tinha dúvida. Até que uma coisa ainda mais brusca acontece e a choca demais: ele mostra todas as pessoas da vila mortas e a manda fazer seu trabalho de Coveira enterrando-os.

Kamisama No Inai Nichiyoubi
©MadHouse/Kamisama No Inai Nichiyoubi

– Você matou todo mundo?

– Não matei ninguém.

– Mentira!

– Não estou mentindo. Pessoas matarem umas às outras é coisa do passado. Tudo o que fiz foi deixa-las imóveis. Matá-las é o trabalho de um Coveiro.

E é assim que a jornada de Ai começa, após ter que enterrar todos aqueles que conviveu e lhe acolheram por 12 anos, ela sai pelas estradas buscando fazer seu trabalho e com a missão de salvar o mundo que Deus abandonou.

Kamisama no Inai é um anime que nos faz refletir sobre o peso da morte e sobre nossa existência, que joga toda a carga de uma vida de perdas, tragédias e responsabilidades em cima de uma pequena garota que não sabe quase nada da vida além do que viveu em uma vila com poucas pessoas. Já no primeiro episódio vemos a crueldade que o rapaz comete com ela, por meio de palavras que a fazem duvidar de sua própria realidade, afirmando que ela é apenas uma humana normal, visto que Coveiros não nascem de outros, eles surgem do nada e não possuem nenhuma emoção, mas são extremamente educados e receptivos.

No entanto, descobrimos em seguida que ela é mesmo uma Coveira, nascida de outro com um humano, o que torna Hampnie (o rapaz que matou todas as pessoas que ela conhecia) ainda mais cruel, dando-lhe um choque de realidade e afirmando que o mundo é violento, para ela desistir de tudo antes que morra por aí.

Kamisama No Inai Nichiyoubi
©MadHouse/Kamisama No Inai Nichiyoubi

“Lembre-se disso: A vida não é simples a ponto de se poder viver como quer. A única coisa que a mantém viva é sua vontade de viver.”

Mas o que foi construído em um episódio inteiro para que moldasse nossa percepção sobre Hampnie, logo é descartado, mostrando que todas as motivações daquele rapaz possuem um motivo. Embora seja muito solitário e sofra com o fato de ser imortal, ele sempre age pensando no próximo, calculando suas palavras e ações de modo a salvar e não prejudicar. Temos essa certeza através de seu convívio e trajetória com a pequena Ai, florescendo, rapidamente, os melhores sentimentos nele e assim nos apegamos (tornando isso um erro GIGANTESCO, porque o anime nos dá na cara logo em seguida).

Para não dar muito spoiler, só preciso dizer que essa animação, baseada em uma light novel de mesmo nome, é muito profunda e carregada de grandes filosofias. O seu tom é melancólico do início ao fim, mas é tudo muito bonito de se apreciar, incluindo seu excelente design e trilha sonora impecável.

Um mundo onde o impossível é possível, onde o amor é uma faca de dois gumes – podendo te salvar de uma triste vida ou te prender a um mundo onde não é mais bem-vindo -, onde também os seres humanos demonstram seu pior lado em busca da sobrevivência, após o abandono de Deus, se apegando à “vida” e fugindo da “morte”, enquanto outros buscam um fim para seu tormento.

Kamisama No Inai Nichiyoubi
©MadHouse/Kamisama No Inai Nichiyoubi

Portanto, se você é do tipo que se emociona fácil, recomendo assistir com um pacote de lenços, pois esse anime irá mexer com seus sentimentos mais profundos. Não é aquele tipo de enredo com uma pitada típica de comédia para descontrair totalmente – e nem precisa, na verdade, pois ele consegue ser divertido nos momentos certos sem isso -, Kamisama no Inai ainda entrega algumas cenas mais leves que podem ajudar a aliviar o peso que sua história segue, para depois nos derrubar novamente com a carga emocional de suas reflexões.

A pequena Ai é a única chama de esperança em um mundo completamente abandonado e morto, encontrando tristezas e a realidade da vida enquanto vaga com seus novos amigos, que faz pelo caminho, em uma jornada, como já dito, para salvar o mundo que Deus abandonou, e é durante suas viagens que ela encontra de tudo, em um trajeto de decepções, de evoluções, de aprendizados e de sofrimentos (para ela e para nós).

A todo o momento somos postos em dualidade e com escolhas completamente e humanamente difíceis à nossa frente, você assiste o anime inteiro com uma reflexão diferente em cada episódio, para que desperte um olhar especial nas diversas possibilidades da vida.

E, como já dito anteriormente, o design e a trilha sonora são sensacionais, tanto a opening, quanto a ending, juntamente com toda a animação (o que é esperado do estúdio MadHouse), proporcionam uma bela e perfeita harmonia com as sensações que temos durante o anime. É tudo tão lindo que merecia muito mais que apenas 12 episódios.

O anime em si possui um excelente plot e é como qualquer história de jornadas, onde somos apresentados a diferentes personagens que duram enquanto seus objetivos não são cumpridos, até que se despedem e nunca mais os vemos em desenvolvimento no enredo. A verdade é que, se você entra de cabeça sem nenhuma pretensão, o enredo acaba te prendendo de uma maneira muito especial e dolorida. A pequena Ai nos mostra que nunca devemos abandonar nossos sonhos e as pessoas que amamos, ela demonstra uma genuína bondade e compreensão com as dificuldades ali impostas que são definitivamente intangíveis para os adultos daquele universo.

Kamisama No Inai Nichiyoubi
©MadHouse/Kamisama No Inai Nichiyoubi

Por fim, devo dizer que o final é e não é satisfatório. Ele amarra bem o arco que desenvolveu, unindo todas as pontas soltas, mas fica com um gostinho de “quero mais”, nos fazendo querer prosseguir com a jornada de Ai e companhia. Aliás, apenas um último conselho: NÃO RECOMENDO maratonar todos os episódios de uma vez, se você tem coração fraco, o risco de fortes emoções é enorme. O anime começa triste e termina “triste” (sem spoilers).

Assim, mais uma vez finalizamos aqui, e gostaria de deixar uma pergunta em aberto: O que vocês fariam se não pudessem mais morrer e a imortalidade fosse uma coisa possível? Deixem aí nos comentários!


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