O Dilema do Ouriço Por que muitas vezes não conseguimos nos conectar com as pessoas?

Fabio Andrade
(Redator do Blog e Podcaster)
Neon Genesis Evangelion
©Neon Genesis Evangelion/Gainax/Tatsunoko Produtions

Confúcio em seu livro XV escreveu que “ter defeitos e não corrigi-los é o verdadeiro erro”, ao ler esta afirmação me vem muito a mente o clássico anime Neon Genesis Evangelion dirigido pelo grande Hideaki Anno, não que o anime seja ruim, longe disso, é maravilhoso, mas esta repleto de pessoas “quebradas” psicologicamente, indivíduos que não conseguiram se conectar, se relacionar. Este anime começou a ser exibido na televisão japonesa em 1995 trazendo consigo uma trama bem elaborada que envolve religião, batalhas contra anjos e muitos questionamentos sobre a humanidade.

O que chama muito a atenção é o sentimento que talvez seja um anime “sem um herói” bem definido pois o seu personagem principal chamado Shinji Ikari é um dos personagens mais controversos e problemáticos que já vimos, entenda, a Terra foi devastada por “Impactos” – como um tipo de catástrofes globais, eventos de destruição massiva causados por Anjos, que por sua vez são seres extraterrestres que invadem o planeta supostamente com o propósito de destruir tudo. Para tentar salvar o que resta do planeta, os jovens Shinji, Rei Ayanami e Asuka Soryu pilotam Mechas gigantes chamados de EVAs para combater as ameaças.

E em muitos momentos de tensão, o nosso saudoso Shinji parece não estar ligando para nada, como se estivesse em algum lugar distante – tipo a ilha de Java na Indonésia, o mesmo chega até a declarar que nem liga se vive ou morre, fazendo assim, muitos de nós iriam à loucura com esse comportamento, mas o que leva um garoto a ser tão problemático? Teria algo em comum entre ele e os outros jovens pilotos dos EVAs?

Neon Genesis Evangelion
©Neon Genesis Evangelion/Gainax/Tatsunoko Produtions

No início deste post eu citei a frase de Confúcio, mas o que ela tem a ver com o anime? Elementar meu caro otaku, se você já assistiu o anime ou leu o mangá, você facilmente poderá se recordar que muitas coisas erradas poderiam ter sido evitadas se as pessoas se relacionassem com um “coração mais aberto”. Como podemos observar, o pai do Shinji (comandante da NERV) não suporta o próprio filho pois o culpa pela morte da esposa e ainda por cima nunca dá informações claras para os seus comandados. Em contrapartida, o nosso saudoso herói é muito complexado por ter perdido sua mãe, ter sido abandonado pelo pai, e posteriormente, quando foi chamado pelo seu pai – achando que encontraria um clima de reconciliação, foi somente para ser maltratado/comandado por ele.

A “terceira criança” Asuka sempre foi desprezada pela mãe e não tem um pai presente porque sua mãe optou por buscar “ajuda” em um banco de esperma, a “primeira criança” Rei é uma clone e sabe que pode ser descartada e substituída caso não cumpra alguma ordem, poderia ter uma mistura mas fatal? Todos de alguma forma são rejeitados e não conseguem de maneira nenhuma se relacionar.

Na própria obra nos é falado sobre o “Dilema do Ouriço”, que por sua vez é uma metáfora criada pelo filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) que ilustra o problema da convivência entre os seres humanos. Schopenhauer publicou esta metáfora em 1851 na obra “Parerga und Paralipomena” e o dilema consistia em um grupo de porcos-espinhos (representados por praticamente todos os personagens principais de NEON GENESIS) que decidiram se amontoar para se aquecer em um dia de um inverno rigoroso, entretanto, ao se aproximar de mais, se machucavam com os espinhos de seus colegas, fazendo com que fossem obrigados a se afastar, no entanto, o frio fazia com que uma nova aproximação fosse necessária, e depois de muitos erros e acertos os ouriços acharam a “distancia ideal” para não se machucarem e conseguiram de alguma forma coexistir.

Podemos ressaltar que os porcos-espinhos citados no dilema conseguiram encontrar uma forma de conviver, entretanto, nosso grupo de “protagonistas” não conseguiu esse final feliz, o próprio anime termina deixando um gosto amargo, a grande lição para nós é o seguinte: Nunca alcançaremos um final feliz se não soubermos nos conectar de forma saudável com as pessoas que estão a nossa volta, e que – acima de tudo, tentar viver ou resolver tudo sozinho sempre irá deixar um gosto muito ruim no fim.

E ai, o que achou do post?


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