Yoake Tsugeru Lu no Uta – A Música Como Condutor Mágico da Alegria Como filmes simples em toda sua composição podem ainda trazer uma profunda reflexão e uma carga emocional gigantesca

Bolinhodearroz
Yoake Tsugeru Lu no Uta
©Science SARU / Yoake Tsugeru Lu no Uta

Hoje vamos falar sobre um filme bem singular, mas ainda profundo como qualquer outra animação japonesa. Yoake Tsugeru Lu no Uta (Lu está livre) é um longa produzido pelo estúdio Science SARU que foi lançado em 2017 e que não é tão conhecido entre o público.

Yoake Tsugeru Lu no Uta
©Science SARU / Yoake Tsugeru Lu no Uta

Sinopse:

Depois do divórcio de seus pais, o jovem Kai deixa Tóquio e se muda para a cidade de Hinashi, uma pequena aldeia de pescadores. Ele está pessimista e desanimado quanto ao futuro, e sua única fonte de prazer tem sido compor algumas músicas eletrônicas. A monotonia de sua vida é interrompida quando ele aceita viajar para a misteriosa ilha de Merfolk à convite de dois colegas. Lá, eles conhecem a sereia Lu, que mudará a maneira como Kai enfrenta suas emoções.

Yoake Tsugeru Lu no Uta
©Science SARU / Yoake Tsugeru Lu no Uta

O filme começa mostrando a vida de Kai, um garoto que vive com seu avô e seu irmão em um vilarejo à beira do mar. A princípio, mesmo com muito talento para a música e criando sons legais, o garoto demonstra ser totalmente apático com a vida, sem interesse na música em si, nos amigos ou no próprio futuro. Porém, certo dia, surge um ser que muda tudo no seu modo de enxergar o mundo e a vida, fazendo com que Kai passe a despertar um genuíno interesse no assunto.

Esse é um filme verdadeiramente empolgante. Quando a sereia começa a mostrar suas qualidades na música, não apenas Kai se empolga e começa a dançar, como também nós, o público, entramos na onda e ficamos envolvidos no som.

De início achei que a revelação da sereia havia sido rápida demais, mas logo entendi o motivo e assim fez um certo sentido. Kai era um garoto triste, com uma vida que julgava infeliz por conta do “abandono” de sua mãe, inclusive era o motivo para não querer se envolver com a música e não querer enxergar um futuro em sua vida. Porém, quando ele nota uma criatura diferente e incomum (a sereia Lu) que se revela e se alegra exponencialmente em meio às notas musicais, Kai entende que a música pode ser mágica e significar felicidade (isso ele sempre sendo apaixonado por música, mas evitando se envolver).

Yoake Tsugeru Lu no Uta
©Science SARU / Yoake Tsugeru Lu no Uta

Portanto, assim como Kai fugia de algo intrínseco em sua vida, assim também os habitantes da ilha repudiavam os sereianos e o surgimento de Lu muda tudo para ele e para todos. A música vai revelar que o desprezo era infundado e que se deixar abrir para a leveza e a magia da vida, longe dos preconceitos, aquilo que tanto gostam vai emergir para suas vidas e o Sol voltará a brilhar acabando com as sombras que tanto viveram.

Kai viveu rejeitando a herança cultural dos pais, mesmo gostando no fundo e levando consigo os dons de família, afinal seus pais se divorciaram, ele teve que se mudar para um local muito pequeno e agora ele não enxerga nenhum futuro na vida. Esse ressentimento guardado fez com que seguisse uma vida amarga e negando em público seu gosto pela música, por isso a grande metáfora do filme é marcada pelo contato com a magia, a fantasia e como que expandir tudo que se trancou dentro de si pode quebrar as barreiras que trazem as sombras e revelar o brilho e a alegria da vida.

Dessa forma, o desenvolvimento do enredo é extremamente bem amarrado e traz a progressão da vontade de viver do protagonista em meio à magia e à fantasia que surgem em sua vida.

Yoake Tsugeru Lu no Uta
©Science SARU / Yoake Tsugeru Lu no Uta

Também achei muito poético a relação da maldição da Pedra das Sombras com a perspectiva de vida e felicidade para os habitantes da ilha. Eles estavam sempre envoltos de sombras, com medo e sem alegria, pensando que estavam amaldiçoados e que as pessoas amadas que se perderam haviam sido comidas pelos sereianos. No entanto, quando a pedra finalmente caiu e o Sol começou a bater naquela ilha tudo começou a mudar, pois os eventos que ocorreram durante esses momentos esclareceram todos os preconceitos e ajudaram a acabar com o medo de todos, assim trazendo a alegria de verdade e a esperança junto com o brilho ensolarado.

Enquanto isso, a estética do longa é toda focada na fantasia da imaginação e na alegria misturando-se no formato do design. São cores vivas, traços simples e detalhados, mas tudo refletido como se o mundo da fantasia e dos desenhos de estética infantis tomassem conta da direção de arte. É tudo bastante fantástico, colorido e “desajeitado“, além do jogo de câmera em muitos momentos que serve para dar uma maior profundidade à cena.

E não só isso. A ambientação e rotulação de uma história leve, divertida e fantasiosa extrapola apenas a estética, se refletindo também nas ações dos personagens que se movem de maneira caricata e divertida.

Yoake Tsugeru Lu no Uta
©Science SARU / Yoake Tsugeru Lu no Uta

Durante todo o filme, algumas das escolhas de design e de movimentação em determinados momentos me lembraram muito o estilo de cartoons de décadas atrás. Por isso esse filme é ainda mais interessante, já que seu enredo de fantasia e da influência da música vai para além da história e se concretiza nos traços, movimentos de câmera, direção e, acima de tudo, na trilha sonora.

E por falar em trilha sonora, porque não destaca-lá, já que a música é o grande plot da história?

Quando vemos o filme inteiro, percebemos como cada escolha em torno da trilha sonora foi muito bem pensada e utilizada. A música é o centro de tudo, afinal os sereianos amam a música e o protagonista vem de um ambiente musical através dos pais e de seu próprio gosto. Todos os momentos mais divertidos e descontraídos trazem ritmos contagiantes e de folia, assim como as partes dramáticas possuem um tom mais pesado e parece que cada segundo desse filme contém a arte, a história e a trilha se complementando de maneira perfeita.

Yoake Tsugeru Lu no Uta
©Science SARU / Yoake Tsugeru Lu no Uta

Os habitantes daquela ilha parecem viver em outra realidade, porque os elementos fantasiosos extrapolam totalmente nas cenas, mas ainda assim parece tudo “normal” ali. Em certo momento, por conta da ganância, o motivo do medo do povo da ilha vira só mais uma atração turística para ganhar dinheiro e atrair o público, até que tudo sai do controle e o medo volta a escurecer a visão das pessoas.

Após ver tantos filmes com um design tão detalhado e perfeito, assistir um cujos traços são tão simples, desajeitados e mais “infantilizados” traz uma certa estranheza que me faz admirar ainda mais todo o trabalho em torno dessa obra e o que ela realmente quer trazer.

Yoake Tsugeru Lu no Uta
©Science SARU / Yoake Tsugeru Lu no Uta

E tudo isso serve para refletirmos que um filme não precisa ter gotas d’água extremamente realistas para ele ser profundo e nos emocionar de verdade. A história e a condução dos elementos narrativos e visuais que vai trazer toda a carga emocional e a mensagem que querem passar.

Agora não esqueçam de compartilhar esse artigo em suas redes sociais e deixem seus comentários sobre essa produção e como enxergam as diferentes histórias presentes nos filmes japoneses que conseguem nos emocionar de todas as maneiras.


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