Porque o Fanservice não pode acabar Quando a entrega de expectativas é mais que um serviço e se torna um presente aos fãs...

Rafael Leal
@Rafael4ide
Dr. Stone
© Dr. Stone | TMS Enterteniment

Uma pequena parada na aventura principal dá lugar a uma tarde relaxante na praia com direito a vôlei e bronzeamento, sobra e água de coco. E esse é um ótimo momento para as meninas que compõe o harém do nosso protagonista fazerem um concurso de biquínis, através de uma mostra cada vez mais sexy e provocante de cores e contrastes sensuais que até então só estariam na nossa imaginação, com direito aquele maiô escolar bem justinho no corpo para as personagens menos pneumáticas.

Asobi ni Iku yo!
© Asobi ni Iku yo! | AIC Plus+

Não sei se sou só eu, mas esse tipo de episódio é um dos meus fanservices favoritos, e é justamente sobre isso que vou tratar hoje, esse assunto desperta tanto no público em geral quanto nos “críticos” as mais variadas paixões e discussões, não só no meio otaku como em todo e qualquer meio de produção artística.

Contextualizando

Fanservice, numa explicação mais ampla, pode ser conceituado como qualquer material/imagem/enredo/fala/texto em uma obra de ficção/mangá/anime/livro/filme/série que é intencionalmente colocada para agradar o público alvo, サービスカット (sābisu katto).

O termo é originário da língua japonesa, ファンサービス (Fan sābisu), e embora essa ideia não tenha se originado da cultura japonesa, porque a entrega de expectativas deliberadas ao público é tão antiga quanto a própria gênese da ficção, foi graças aos japoneses e sua influência no ocidente, como um dos efeito da globalização, que na primeira leva de adequação de traduções dos mais variados conteúdo para os padrões culturais dos países (em especial da América) que foram distribuídos mangás, animes e light novels, aos quais devemos o nascimento da cultura do Fanservice, adequação do conteúdo ao público ou mesmo a convergência para interação dos significados entre diferentes culturas, segundo Henry Jenkins. Também é usado comumente em outros idiomas e mídias para apontar quando uma obra dá aos fãs “exatamente o que eles querem”, e, às vezes, até um pouco além disso.

Bleach Beach
© Bleach | Tite Kubo

As formas mais comuns de caracterização desse tipo de prática nos mangás e animes é a apresentação de cenas de seminudez ou inferência de realização de atos sexuais ou erotização de parceiros dos personagens em situações cômicas ou mesmo incomuns do cotidiano, seja pela utilização de objetos em formato de órgãos sexuais ou ângulos de fotografia onde se obtêm a vista de roupas íntimas, o que não é exclusividade dos animes destinados aos meninos, e muitos menos é o único tipo de fanservice que pode ser utilizado, o que pode ser menos ou mais impactante de acordo com o observador, numa proporção que está se tornando cada vez mais comum em todos os gêneros.

Tipos de Fanservice

Banho de águas termais

Fairy Tail
© Fairy Tail | Satelight, A-1 Pictures

Eu não sei você, mas eu tomo banho pelado, por isso eu nem considero isso propriamente um fanservice, já que para termos conhecimento de alguns diálogos precisamos acompanhar as personagens de forma interativa, nenhum diretor de fotografia que se preze vai fazer uma cena de discussão de personagens mostrando só a porta do banheiro. Ainda mais podendo contar com o efeito de fumaça das termas para ajudar a esconder os nossos principais pontos de interesse. Principalmente se quem estiver tomando banho for uma das magas mais cobiçadas do mundo otaku, Erza Scalet da guida de magos Fairy Tail.

Harém

Recomendação
© Rosario to Vampire | Gonzo

Ter um monte de garotas interessadas em você pode até parecer um sonho pra muitos garotos, mas essa é uma trama que podem levar a contornos diversos a depender das personagens e da forma como elas interagem, principalmente se o protagonista não se decide entre qual é sua verdadeira amada, que nós já conhecemos desde o primeiro episódio. Por essas e outras que em Rosario to Vampire o harém não é só um fanservice, mas um elemento da narrativa e problematização do anime.

Diabolik Lovers
© Diabolik Lovers | Zexcs

E como eu tinha dito antes, fanservice não é exclusividade para meninos. Diabolik Lovers é um ótimo exemplo de harém para as otomes de plantão, pois, embora a pobre Yui Komori esteja cercada de marmanjos bonitões, nenhum deles vai dar folga para ela enquanto não lhes der aquilo que eles os fizeram ficar loucos por ela: o sangue.

Neko Girl

Masou Gakuen HxH
© Masou Gakuen HxH | Production IMS

Masou Gakuen HxH já é um anime de fanservice por excelência, mas além do claro apelo sexual para justificar a trama sem pé nem cabeça que põe em jogo o futuro da humanidade, tem cenas muito boas e engraçadas, que eu não esperava ver num anime ecchi sobre mecha. Quando a Hayuru Himekawa tem de virar uma gatinha para ficar mais excitada e faz uma série de sons constrangida por pegarem no rabo dela eu morri de rir.

Apalpamento de seios

Enen no Shouboutai
© Enen no Shouboutai | David Production

Quem nunca viu a clássica apalpada de seios inesperada, tão inesperada que eu mesmo fiquei surpreso ao ver em Enen no Shouboutai quando o protagonista do nada pegou nos seios da Tamaki Kotatsu, uma cena que só não foi mais fanservice por conta dos diretores da animação, porque no mangá a coisa foi bem mais apelativa e nem por isso menos engraçada. Acredito que esse seja o fanservice mais visto de todos os tempos da história dos animes e mangás, porque os japoneses só perdem para os americanos em fascínio por seios.

Roupas rasgadas

Cutie Honey Universe
© Cutie Honey Universe | Production Reed

Por último, porém não menos favoritado fanservice, quando as roupas deixam apenas a silhueta da personagem a mostra, e há uma seminudez belíssima que traz a tona a completa sensualidade das personagens, narizes sangrando costumam ser as reações mais comuns do outro lado das telas ou páginas. Principalmente se você tiver assistido o remake de Cutie Honey Universe. Essa Kisaragi é mesmo um docinho de personagem…

Considerações finais

As referências intertextuais devem ser vistas e compreendidas pelos fãs e terceiros como uma forma de presentear o público alvo de determinado nicho com a entrega de expectativas criadas através de conteúdo relevante ou mesmo só curioso da história, capaz de reconhecer, criar interesses e despertar empatia dos membros de uma comunidade cada vez maior que busca cada vez maios apreciar um material dedicado a si e ter a impressão de que tudo fora feito sob encomenda para suas expectativas.

Não se trata de uma hiper sexualização da figura da mulher, é apenas uma licença poética que os autores e produtores tem para agradar o público alvo, através da arte de mexer com o cérebro por meio das imagens de personagens absolutamente ficcionais. Mesmo porque, grande parte da indústria cultural, não só japonesa, é sustentada assim com conteúdo muito mais explícito instigador, veja-se por exemplo a milionária indústria pornográfica americana e brasileira.

Não é de hoje que eu integro comunidades otakus, mas desde que houve um aumento da amplitude e facilidade de acesso à internet tem se tornado cada vez mais difícil expor sua opinião sobre algo que, em tese, é só um meio de entretenimento para algumas pessoas, encontrar uma comunidade tem se tornado uma atividade similar a escolher um partido político, em que há uma cisão muito clara entre esquerda e direita, ou é oito ou oitenta.

E o pior de tudo isso é que sempre há aqueles que não aceitam ouvir argumentos ou que querem obrigá-lhes a aceitar sua opinião, como se ela fosse a única correta.

E você, gosta de qual tipo de fanservice? Tem algum que não gosta? O que achou desse artigo?
Deixe nos comentários.


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