A Importância dos Fillers Odiado por muitos, eles não são tão inúteis como você pensou!

Josué Fraga Costa
(Redator)
©Arte final por: Skyline

Se tem um assunto que vira e mexe está nas discussões por aí são os tais dos fillers, praticamente ninguém gosta deles, não significa que não exista um motivo plausível para a sua existência, e tão pouco que são de um todo inúteis. Será um texto que pode ser o típico 8 ou 80, mas é necessário mandar a real sobre os fillers, e já vou adiantando ao caro leitor, não são inúteis como imaginávamos. Fale a verdade, você sabe pra quê servem ou como foram originados os fillers? Você sabe quais episódios ou arcos são fillers de cor e salteado? Na maioria dos casos, com certeza nem um ou outro, aliás, a própria discussão da importância dos fillers simplesmente não existe em canto nenhum, pois simplesmente saíram um monte de pessoas falando que é ruim porquê sim, e pronto. Eu mesmo em muitos casos não gosto, mas depois de ficar sabendo do porquê, consegui ao menos compreender. Por isso, resolvi escrever o meu texto da semana para começar esta discussão de fato! Vamos a ela?

Concepção original

Os fillers nasceram originalmente para preencher a tabela de programação das televisões, lembram-se delas? Pois é, hoje com os streamings muitas dinâmicas de seu funcionamento eram inimagináveis quando as televisões reinavam sem rivais, e uma destas dinâmicas é a disposição dos episódios, se você quer assistir a qualquer coisa em série de episódios, basta ir na aba deles e assistir à vontade, ou até mesmo em certos casos os episódios vão sendo lançados em quantidades variadas, mas nas televisões a coisa era bem diferente, cada horário poderia definir o sucesso ou o fracasso de toda a grade de programação, isso em qualquer canto do mundo, o que inclui o Japão. Acontece que, as animações eram vendidas em pacotes distribuídos nas grades, só do meio dos anos 90 aqui no Brasil que animes em individual começaram a serem adquiridos como regra e não exceção. E um ponto fundamental é de quanto tempo duraria sua transmissão, e se a animação fosse do tipo longa ou que tivesse um sucesso relativo, eram adicionados episódios para ‘preencher’, que é o que filler no final das contas significa. A outra forma dos fillers veio com o ritmo das animações, no caso daquelas que são adaptadas de uma fonte original, seja jogos ou novels, pois nas animações médias/longas, superiores à 40 episódios, acontecera um fenômeno onde o conteúdo fonte simplesmente estava acabando, ou simplesmente tinha acabado, e os episódios foram paralisados até que houvesse conteúdo a ser adaptado, logo, acabou que neste caso os fillers existem por uma necessidade de conteúdo que a grade das televisões necessitavam para que de repente não perdessem a audiência.

Tipos de fillers

São cinco os tipos de fillers usados na indústria: filler canon, semi-filler, flashbacks, adições finais e os que enchem linguiça, a melhor tradução para ‘sausage stuffing anime’ que consegui encontrar.

  • Filler canon: Como dito, animações que são adaptadas de alguma fonte original, podem vir de mangás, novels, jogos e etc, porém o autor decide adicionar algo de outra fonte, como o caso do episódio 3 de Full Metal Alchimist, na admissão de Ed para o exército como alquimista, ele luta contra o Roy Mustang, numa luta bem intensa onde ambos acabaram destruindo o pátio. O episódio veio do mangá, mas esta parte veio de uma escrita da autora Hiromu Arakawa. Também pode ser um episódio inteiro, caso um anime venha de um mangá, mas o/a mangaká escolhe algo de uma web novel, ele se classifica como cânon;
  • Semi-filler: Como o anterior, só que agora como parte do episódio, o/a mangaká escolhe parte de seu episódio para ter um preenchimento, as vezes para alterar a dinâmica de ritmo do episódio ou mesmo adicionar algo por um motivo em específico;
  • Flashbacks: Se você conhece ou é fã de Naruto, nem preciso explicar este, de repente o autor(a) decide dar uma pausa e voltar com episódios com diferentes perspectivas, e pronto;
  • Adições finais: Este tende a alterar o material fonte e criar uma parte final ou mesmo um episódio final, um dos mais odiados pelos fãs, já que raramente o resultado agrada e tem alguma coerência;
  • Para encher linguiça: como o nome diz, só pra passar o tempo, como o episódio 1 da 3ª temporada de My Hero Academia, o episódio das férias de verão com uma disputa entre Midoriya e Bakugo, ou o episódio 19 de Fairy Tail, onde após o arco da Ilha Galuna, Natsu, Lucy, Gray e Happy voltam para Fairy Tail para receberem um castigo de Erza, quando Natsu lê um manuscrito antigo e ativa uma magia de permuta, onde todos os citados trocam de corpo, o episódio é pura zueira, imaginem a cena onde Happy está no corpo de Erza e ela no dele? Na versão portuguesa foi hilário, mas não adiciona ou altera a estória.

Todos os tipos tem sua posição e função, mas o cerne da questão é, eles têm qual valor se na maior parte não adicionam em nada à estória ou servem pra alterar o tempo para não quebrar o ritmo da transmissão?

Bones/My Hero Academia
©Bones/My Hero Academia

Explorando a necessidade

Tendo conhecimento de que os fillers são feitos para preencher grade e para agilizar a dinâmica de animação e adaptação do material fonte, não se resumindo aos fillers de Naruto que é o que se pensa de cara quando se fala de fillers, ao menos agora você tem uma ligeira ideia, não tentarei mudar sua opinião caso você goste ou não, até por quê aos 25 anos você simplesmente começa a somente expor seu ponto de vista, ao invés de tentar sem necessidade, mudar a visão de mundo de alguém, mas mostrarei algo que ao longo de duas décadas assistindo a todo tipo de obra audiovisual, e de uma conversa recente que tive com um amigo que me recomendou este assunto para abordar aqui na Anime United. Se pararmos para ter uma perspectiva mais ampla do assunto, veremos que os vários tipos de fillers adicionaram e muito aos animes, de modo que os complementaram bem e que trouxeram dinâmicas que somente a adaptação do material fonte não conseguiria. Sabem os episódios da praia ou piscina no verão? Ou os festivais Bon Odori? Ou os festivais culturais escolares do Japão? Ou os especiais em datas comemorativas, como o Natal, Páscoa? Pois é, eles não existiriam. Pense nas mais variadas cenas e dinâmicas entre os personagens e o mundo em que estão situados que simplesmente não existiriam, ou mesmo os animes que surgiram e são meramente fillers, já que para alguns, os OVAs não são cânones, como em Isekai Quartet, onde reúne os quatro grandes isekais da Kadokawa, como Overlord, Konosuba, Re:Zero Tanya the Evil, ou Fate Gran Carnival, aproveitando e usando seus personagens puramente pra zueira interna. Ou mesmo arcos inteiros que são unicamente fillers, como em Bleach com o arco dos Bounts, se a pessoa não pesquisar, sequer notará que a estória não é parte do material fonte, pois segue a mesma tocada do material original em si, sem alterar seus personagens ou o estilo da obra, e dá tempo para que os personagens possam ser introduzidos e desenvolvidos para o público.

Satelight, A-1 Pictures/Fairy Tail
©Satelight, A-1 Pictures/Fairy Tail

Eu vejo que sem fillers, por mais que sejam inúteis para a estória, teríamos um imaginário menor sobre as obras que nós tivemos. Quer um exemplo?

Naruto Shippuden: 28, 45, 49, 57-71, 90-112, 127, 144-151, 170-171, 176-178, 180-196, 213, 223-242, 257-260, 271, 279-281, 284 -295, 303-320, 327, 347-361, 376-377, 386, 388-390, 394-413, 416-417, 419, 422-423, 427-457, 460-461, 464-469, 480 -483; todos são fillers, e se adicionar com os episódios da primeira fase, 26, 97, 99, 101-106, 136-220.

São poucos até, pois quando você assiste a Detetive Conan: 6, 14, 17, 19, 21, 24-26, 29-30, 33, 36-37, 41, 44-45, 47, 51, 53, 55-56, 59, 61-62, 64-67 , 71, 73-74, 79-80, 83, 87-90, 92-95, 97, 106-109, 111-112, 119-120, 123-127, 135, 140, 143, 148-152, 155 , 158-161, 165, 169, 175, 179-187, 196-198, 201-204, 207-211, 214-216, 225, 232, 235-237, 245, 248, 251-252, 255-257, 260-262, 264-265, 273, 276, 281-283, 294-300, 303, 314-315, 318-322, 328, 337, 342, 348-349, 352-353, 357, 360, 363 -365, 368-370, 373, 376-380, 384, 388-389, 392-393, 397, 403-405, 409-410, 413-414, 418-420, 423-424, 426, 433-434, 437, 439-442, 448, 450-452, 456, 459, 461, 468, 471, 475, 478, 480, 483, 486, 489, 512, 518-520, 527, 536, 539-541, 544 , 547-548, 553-556, 562, 565-567, 570, 577, 582, 588, 591, 594-596, 599, 602-607, 629-631, 634-641, 658, 663-666, 669 -670, 677-680, 686-689, 692-698, 707-709, 716-721, 726, 729-730, 733,735-737, 742-743, 750, 753, 757-758, 761-762, 767-769, 774-778, 784, 789-791, 794-807, 813, 816-821, 824-826, 829, 833-835, 838-842, 845-846, 851-852, 855-860, 865, 868-871, 875-877, 880, 883-884, 891-893, todos este episódios são fillers.

Naruto
© Naruto

One Piece, que está a tanto tempo no mercado mas tem muito conteúdo a ser adaptado, 50-51, 54-60, 93, 98-99, 101-102, 131-143, 196-206, 213-216, 220-226, 279-283, 291-292, 303, 317-319, 326 -336, 382-384, 406-407, 426-429, 457-458, 492, 497-499, 506, 542, 575-578, 590, 626-629, 747-751, 775, 780-782, 801 e 807. Bem menor né?

Eu lembro de um meme que tinha visto a uns anos, que mostra um livro fazendo um paralelo com Naruto bem grosso, e depois o mesmo anime num livro pequeno sem os fillers. Não adianta, por mais que você não curta um filler em específico ou deles como um todo, a real é que sem eles talvez eles não tivessem o espaço na sua memória como você teria se não tivessem, se fossem irrelevantes você sequer saberia o que os fillers são. Fora que, se os animes não tivessem, como dito anteriormente, o ritmo da adaptação estaria comprometido por falta de material fonte, já que na maioria dos casos eles são adaptados de mangás que demoram bem mais tempo para ter um capitulo pronto do que um episódio animado. E na real, se você chegou a ver os episódios na televisão, você não sabia se era algo da estória em si ou um episódio pra encher linguiça para dar tempo a se ter um outro episódio, logo, eles servem também para dar um fôlego tanto ao espectador para digerir e absorver o máximo dos episódios, tanto para a estória em si no imaginário do espectador. Resumindo, acaba sendo algo para que estes animes médio/grande em episódios possam em si existir de maneira racional para as emissoras que o transmitem, quanto para os estúdios que os criam. Tanto que, não se vê mais fillers fora de animes mais longos, pois de fato em várias vezes eles se atrapalharam no uso dos personagens e a qualidade em poucas vezes condiz com a estória em si, o que acaba que há mais animes que no processo de adaptação ganham conteúdos originais para a animação, já que também é virtualmente impossível se adaptar 100% do conteúdo para a animação, seja partes da estória ou diálogos que acabam sendo melhores na leitura do que em algo animado e por aí vai.

Pierrot/Naruto
© Pierrot/Naruto

Conclusão

Para alguns os fillers acabam sendo um mal necessário, para outros tanto faz quanto tanto fez, uns gostam e outros não, a real é que eles existem por uma necessidade em sua formulação na adaptação do material fonte, mas geram dinâmicas que acabaram por de alguma forma a serem lembradas pelos fãs, eu até fui generoso em colocar alguns exemplos mais claros, mas há outros tantos por aí que provavelmente você não sabia que eram fillers. Há os que enchem linguiça mas há a necessidade de preenchimento para a adaptação em uma animação que acaba adicionando à obra, dão tempo de digestão que certos animes menores simplesmente não dão, pois em sua quantidade menor de episódios em certas ocasiões acaba que a quantidade de conteúdo é muito densa, dando a impressão que os episódios são insuficientes para tanto conteúdo. A responder o título, creio que os fillers preenchem uma necessidade, e qualquer necessidade que seja atendida mostra uma importância em sua existência, além de que criam toda uma natureza de situações que estão no imaginário do público que acabam dando relevância para eles, e em vários casos muitos episódios o público sequer sabe que o conteúdo vem de outro lugar, e repito, se você consegue adaptar 100% da fonte original, seja ela qual for, as chances da temporada ser pequena é muito grande, fora que a qualidade do todo não será das maiores, pois certas situações evocam alterações para que se possa animar as cenas, tanto que se vê regularmente que estórias e enredos como um todo vem de um canto, mas os designs dos personagens vem de outro, mostrando que algo escrito e desenhado são diferentes ao passar pelo processo de animação, ou seja, fillers preenchem, a questão é saber usar este recurso de maneira coerente e que funcione para a obra.


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