A definição e importância das aberturas e encerramentos de animes! O porquê de aberturas e encerramentos se tornarem ícones da mídia.

Josué Fraga Costa
(Redator)
Shigatsu wa Kimi no Uso
©A-1 Pictures/Shigatsu wa Kimi no Uso

Se tem um tema que vez ou outra surge dentro da comunidade de fãs dos animes são as aberturas e encerramentos que os compõe. Muito provavelmente todos os fãs de animes tem uma lista com suas melhores aberturas e encerramentos de todos os tempos, há várias listas por toda a Internet detalhando quadro a quadro e explanando o porquê de ela ser boa a ponto de ser uma das melhores de todos os tempos. Mas, quais são os pontos de destaque que definem uma boa abertura e um bom encerramento? São eles: a música e a ligação com a obra, a animação e a amostra de detalhes da obra e o fator de divulgação da obra. Se você for como um leitor que leu meu texto anterior aqui na Anime United e reclamou que em pleno site de textos que o texto era muito detalhado e grande, estes são os tópicos, e esta leitura se encerra pra você. Mas, se você quer entender como funciona as aberturas e encerramentos, esta leitura está apenas começando!

O que são?

Começando do começo, devemos adereçar para o quê serve uma abertura e um encerramento para além do óbvio, que seria a auto divulgação e caracterização. As primeiras aberturas e encerramentos eram bem básicos em qualquer obra midiática, era basicamente uma trilha sonora característica da obra e a apresentação de seus respectivos personagens e pessoas participantes da mesma, desde a produção até mesmo os patrocinadores. Outras foram para um lado mais característico, como as aberturas das Merrie Melodies da Warner Bros, onde desde a primeira edição fora mostrado uma introdução com design fixo e uma trilha sonora que se tornou uma das mais conhecidas do mundo. Ambas evoluíram de imagens estáticas com o título da obra como mera divulgação e chamadas por conta dos meios onde eram transmitidos, geralmente na televisão, para uma apresentação do núcleo da obra, com cenas dos episódios como a abertura de A Caverna do Dragão, e quando ganharam movimento elas evoluíram além até onde as conhecemos hoje. Hoje elas são uma mistura das duas, onde se divulga os personagens, parte do enredo, de uma forma onde ambos servem como divulgação do todo.

Warner Bros/Merrie Melodies
©Warner Bros/Merrie Melodies

Definido o que são, como indicar o que compõe uma grande abertura e encerramento? Bem, comecemos com a música.

Música e ligação com a obra

Um tópico que me toca em especial, já que este que vos fala é músico desde 2009, mais precisamente sou baterista/percussionista, e mais recentemente aprendi o baixo e violão, além de ensinar a arte dos instrumentos e novas à outras pessoas. E é óbvio que também já toquei diversas aberturas e encerramentos dos mais variados animes e seriados. Sem a música simplesmente não há sentido em se ter uma abertura que seja uma marca da obra, nem um encerramento que deixe um gostinho do próximo episódio, logo, eu diria que ela é fundamental para a formulação de ambas, pois na vasta maioria dos casos elas são feitas seguindo o ritmo, compasso e estrutura harmônica para que sejam feitas as artes, mas há aquelas que são feitas especificamente para este propósito, neste caso então a ordem dos fatores não altera o resultado. E existem uma penca de diferentes gêneros abordados, desde blues e jazz, até o pop e músicas tradicionais, sendo assim, há um leque virtualmente gigante que é praticamente complicado de se ver a todas as aberturas e encerramentos já feitos até hoje.

Isto resvala em um tópico que sempre aparece envolvendo ao gosto musical, a música que você gosta é boa e por isso você a ouve, ou a música que você ouve é boa só por ouví-la? Há músicas boas e ruins, sem mais nem menos, mas mesmo músicas que são objetivamente boas geralmente não a ouvimos por não fazer parte do nosso gosto, mas tem as músicas que são objetivamente ruins mas que por uma coisa ou outra nos sentimos confortáveis ao ouví-laa, e é importante em delimitar este ponto já que algo não é bom por gostarmos nem ruim por não gostarmos. Dito isto, a melhor música de uma abertura deve casar inerentemente com o gênero artístico proposto, não adianta colocar um progressive rock e a abertura ter um compasso de samba, além de que ela também tem de apresentar de uma forma ou de outra a obra em si. E é óbvio que eu não teria como somente falar sobre sem apresentar exemplos claros.

Sunrise/Cowboy Bebob - Tank!
©Sunrise/Cowboy Bebob – Tank!

As aberturas e encerramento de Cowboy Bebop são o exemplo de topo de como se deve apresentar sua obra, além de se despedir de seu público já o colocando no próximo episódio com músicas que casem com a proposta da obra e com seu gênero. A abertura ‘Tank’ é feita por um Jazz composto pela Yoko Kanno com o grupo ‘Seatbelts’ especialmente para a obra, com um compasso mais acelerado já chamando a atenção logo nos primeiros segundos, geralmente, os 30 primeiros segundos de qualquer música já definem toda a tocada e qualidade de toda ela, já sendo o suficiente para que o ouvinte dizer se irá gostar ou não. Puramente instrumental e que enfatiza com um grande estilo minimalista e subjetivo com os personagens e objetos que fazem parte da obra. Seu encerramento é melancólico e já tem uma cadência menor em comparação com a abertura, mostrando os personagens em bem menos ação, combinando com o tema mais pesado que a obra apresenta.

Outra música que acaba sendo feita especificamente para a obra em si e com grande qualidade é 99.9 de Mob Psycho 100 II, performada por Sajou no Hana, uma banda japonesa e com o coro formado por dubladores de Mob Psycho. Toda a letra se refere ao próprio Mob (Shigeo Kageyama), além de que a palavra Mob se referir a violência ou descoordenação, que vai direto com os sentimentos que o Shigeo vai desenvolvendo e compreendendo ao longo da saga. Um caso onde a música vai desenvolvendo toda a abertura de maneira avassaladora, detalhando todos os frames e acontecimentos dela acompanhando a cada pausa e retomada do ritmo.

Bones/Mob Psycho 100 II - Sajou no Hana/99.9
©Bones/Mob Psycho 100 II – Sajou no Hana/99.9

Há vários exemplos de músicas muito boas que não são formuladas diretamente para a obra em si, como a 6ª abertura de Bleach do Aqua Timez, Alones, onde toda a letra da música casa com a proposta da temporada em destaque, mais precisamente o turbilhão de emoções que Ichigo, o personagem principal da obra está passando, ou o encerramento de Eromanga-sensei que é pura animação, duvido alguém me mostrar algo que dê tanta satisfação ao lavar uma roupa, com uma das personagens está dançando com a música mas fazendo alusão ao barulho da lavadora de roupas.

Mas também há casos onde boas músicas não casam com o resto, como a 10ª abertura de Naruto Shippuden, Newsong da banda Tacica, aliás, Naruto tem aberturas e encerramentos com músicas incríveis, mas aberturas sem muito nexo com as temporadas em que elas estavam inseridas. Eu particularmente gosto da 14ª abertura da saga, Tsuki no Ookisa do grupo Nogizaka46, a abertura não é ruim, mas não bate com a temática da temporada, porém se encaixa no tipo de abertura que mais serve para a promoção de um estúdio anexado ao anime, o que acaba divulgando ainda mais a obra para outros públicos.

Pierrot/Naruto - Nogizaka46/Tsuki no Ookisa
©Pierrot/Naruto – Nogizaka46/Tsuki no Ookisa

No geral, boas músicas existem aos bocados, mas nem em todos os casos elas somente transformam uma abertura e um encerramento nas melhores de cada um. Sabendo que a abertura é um cartão de boas vindas do anime para o público e que o encerramento o despede e já o dá um gosto do que foi a obra em si, eu diria que o que define mesmo uma boa música para cada uma é aquela que desenvolva ambos os contextos de maneira perfeita, e não somente ter uma música que soe bem à nossos ouvidos.

Animação e amostra de detalhes da obra

Tendo escolhido a música certa para desenvolver um cartão de boas-vindas e de despedida, está na hora de criar a parte gráfica de tudo isto. Se a música acaba por ser a alma de todo o contexto, a parte gráfica é o visual que dá forma a esta alma, sendo assim algo que seja vivo para a mente estabelecer uma conexão. Muitos dizem de maneira errada, principalmente em questão aos jogos  que ‘’gráficos não importam’’, na verdade deveriam dizer que os gráficos não são a única coisa que se nota num jogo, pois o gráfico importa e muito para se estabelecer esta conexão, se não fosse o caso sequer estariam falando até hoje do fiasco que foi a animação da terceira temporada de Nanatsu no Taizai, que foi muito grotesca. E se a música vai definindo o compasso e temporização de tudo, a animação vem a mostrar cada etapa dela, como visto anteriormente, seja com uma música sendo composta específicamente para a situação, ou seja, uma música que transmita a mensagem proposta. Uma animação que seja digna de transformar uma abertura e encerramento de maneira emblemática tem de seguir a certos requisitos:

  • Deve corresponder com o andamento da música;
  • Deve transmitir a sensação e proposta do que a obra é;
  • O estilo gráfico deve corresponder com o gênero da música e da obra;
  • Cenas da animação em si não podem ser usadas da mesma forma como na animação em si, e sim propor o que se deve passar de maneira indireta.

Em sequência, sendo a música um estopim para todo o resto, a animação não tem como descompassar o andamento da música, todas as pausas e retomadas de ação, entradas de estrofes e refrões no caso de músicas cantadas, devem ter uma coerência nata. Estabelecido isto, você tem que em ambos os casos estabelecer a conexão entre a obra e o espectador, transmitindo a sensação que se ou tem em acompanhar a obra, assim sabendo o que a obra propõe. A animação tem de ter uma grafia correspondente também com a música e com a obra em questão. O último ponto acaba definindo tudo, não dá simplesmente para ter cenas colocadas à gosto e de maneira genérica, e sim àquilo que é correspondente aos personagens e situações, de maneira que não tenha cenas que acabem não acontecendo e que gerem de maneira desnecessária um hype sobre a coisa, sucedendo uma frustração ou que deem spoiler de maneira óbvia e que basicamente acaba não atraindo muito, já que um cartão de boas-vindas tem de ter uma surpresa embutida, e uma despedida tem de evocar uma continuação ou conclusão definidas.

E se tem uma boa abertura e encerramento que cumpra estes quesitos citados são do anime ‘The Great Pretender’, a obra inteira tem um estilo gráfico com cores mais vivas e emulando iluminações e efeitos visuais que correspondessem ao momento, seguindo sempre de um jazz dos mais variados ritmos, desde um bem animado até um com menos cadência. A abertura é isto tudo, o tema principal da obra é também o que compõe a introdução, ela é uma música instrumental e que vai crescendo e demonstrando todos os objetos e acontecimentos de maneira que quando você assiste aos episódios você compreende a abertura, e se você ainda não viu a nenhum episódio a abertura cumpre o seu papel de chamar a audiência, ela tem uma arte subjetiva e minimalista que bate com jazz que dá a trilha sonora. E o encerramento, meus amigos, o encerramento da obra é uma ode à arte. “Simplesmente’’ ao som de The Great Pretender, interpretado pelo grande Freddie Mercury, todo o encerramento além de se despedir com chave de ouro e mostrando a obra em si, ele segue ao clipe original da música fazendo uma alusão, substituindo os cantores por gatos, e não tem bicho mais fingido e falso na natureza do que o gato, ou seja, fazendo alusão à obra, ‘pretender’ em inglês significa fingidor, larápio.

Wit Studio/The Great Pretender - Freddie Mercury/The Great Pretender
©Wit Studio/The Great Pretender – Freddie Mercury/The Great Pretender

Fator de divulgação da obra

O que tem de animações, filmes, séries, até mesmo documentários que acabaram sendo conhecidos por suas aberturas e encerramentos não cabe no gibi, Star Wars tem uma abertura que é reconhecida no mundo todo por si só, e se tornou um ícone dentro de um ícone na cultura popular, seja pela maravilhosa música composta por John Williams, um dos maiores compositores da história, seja pelas letrinhas subindo e indo rumo ao espaço. Shigatsu wa Kimi no Uso (Your Lie in April) tem uma das aberturas mais icônicas dos animes, com a obra tendo por tema a música não teria como desaproveitar a deixa, Hikaru Nara do grupo Goose House simplesmente define ela por um todo. Ou quem não conhece a abertura das animações da Warner Bros? Isto é sinal que foram bem feitas, tanto a abertura quanto o encerramento, pois cumpriram seu papel de divulgar a obra e de se caracterizarem em resumo do que a obra em si é. Sendo assim, se uma obra fora conhecida por sua abertura e encerramento, ela sozinha trouxe um público que por meios convencionais não conheceria aquilo. Seja pela música ou pelos grafismos apresentados, se algum anime é reconhecido e em suas análises suas aberturas e encerramentos são citados, eu afirmo sem dúvida que eles se encaixam como sendo os melhores feitos.

A-1 Pictures/Shigatsu wa Kimi no Uso - Goose House/Hikaru Nara
©A-1 Pictures/Shigatsu wa Kimi no Uso – Goose House/Hikaru Nara

E quais eu colocaria demonstrando os pontos apresentados? As aberturas e encerramentos de Mob Psycho 100 II, The Great Pretender, Shigatsu wa Kimi no Uso, Lucky Star, Jujutsu Kaisen, Spy x Familiy e Neon Genesis Evagelion. Cada uma dessas obras foi reconhecida por ambas, conseguiu atrair um público por seu meio e se tornaram referencias natas. Mob Psycho 100 por suas cores e ação caracterizando as emoções do Shigeo, The Great Pretender levando a risca seu nome e encarnando isto no começo e fim, Shigatsu wa Kimi no Uso com um tema tão bem feito e uma arte que a acompanhou muito bem, Lucky Star e sua abertura fluída e descontraída e um encerramento que simplesmente mostra sua obra em um formato de jornal, Jujustu Kaisen pelo mesmo motivo de Mob Psycho 100, quando o tema tão pesado e mais sombrio casam com a música e a arte gráfica, e Spy x Family que também se parece com The Great Pretender, com um jazz cheio de vida e um final mais tranquilo que tem uma letra que serviu ao tema proposto. Neon Genesis Evagelion se tornou um ícone em várias facetas, sua abertura se tornou tão icônica à voz de Yoko Takashi que se tornou um marco nas aberturas, com uma apresentação dos personagens que segue a música Cruel Angel Thesis de maneira incrível, e o seu encerramento que é mais simples mas que ajudou a popularizar um formato que não era tão comum, que apresentasse diretamente o próximo episódio em 30 segundos anunciados pelos personagens.

Gainax, Tatsunoko Production/Neon Genesis Evangelion - Yoko Takahashi/A Cruel Angel's Thesis
©Gainax, Tatsunoko Production/Neon Genesis Evangelion – Yoko Takahashi/A Cruel Angel’s Thesis

Conclusão

Há claramente várias músicas que são muito boas, há animações gráficas muito bem feitas, mas muitas delas ou tem uma ou outra e que resulta em um desencontro de ideias, mas quando andam juntas, transformam uma obra em algo diferenciado. Você verá boas aberturas e encerramentos em muitos animes bons, mas poucas que de fato entrarão para história e imaginário do público se ambos os fatores não estiverem unidos. Se o começo e o fim apresentam ao mundo sobre o que sua obra verdadeiramente é, desde o tema chave até as emoções e reações que você poderá desfrutar, então seu propósito foi alcançado e sua proposta bem difusa.


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