Crítica: Suzume no Tojimari Makoto traz a tona o impacto do grande desastre de 2011 ocorrido no Japão

Alex Kurt
(redator)
Suzume no Tojimari
©Suzume no Tojimari

Ficha Técnica – Suzume no Tojimari

Gênero: Aventura, Fantasia
Estúdio: CoMix Wave Films
Baseado em: Original
Data de Estreia: 13 de abril de 2022

Makoto Shinkai retorna aos cinemas com um novo filme. Mas faz jus à sua reputação? Bem, sim e não. Para ser claro, Suzume é um bom filme, um entretenimento magistral que consegue nos divertir. Mas, para entrar nas ‘picuinhas’, além de seu escopo de entretenimento, Suzume no final das contas permanece bastante comum, especialmente para um Shinkai.

Suzume no Tojimari
©Suzume no Tojimari

Sinopse:

Suzume, uma garota de 17 anos que mora em uma cidade tranquila em Kyushu, conhece um jovem viajante que lhe diz ‘Estou procurando uma porta’. Ela o segue e descobre um portão gasto nas ruínas das montanhas, como se fosse a única coisa que restou de um deslizamento de terra. Como se atraída por algo, Suzume se aproxima da porta… Em pouco tempo, as portas começam a se abrir uma após a outra em várias partes do Japão. Como as catástrofes vêm do outro lado das portas, as portas abertas devem ser fechadas. As estrelas, o sol poente e o céu da manhã: naquele lugar por onde ela entrou, havia um céu que parecia se misturar o tempo todo. Guiado pelas portas misteriosas, a ‘jornada de fechamento de portas’ de Suzume começa.

Opinião:

Suzume pode ser visto como uma miscelânea de outras obras de Shinkai, no caso: Em Busca das Estrelas (2011) e O Tempo com Você (2019). Em termos de estrutura narrativa compartilha assim falhas semelhantes com este último. A história pretende ser uma viagem adolescente pelo país e isso por si só, é um problema. Se a viagem está lá desde o início, a estrada só vem mesmo na última parte. Para entender que a viagem é de fato um elemento central do filme, passamos muito rapidamente sobre ela e, portanto, sobre todas as possibilidades de desdobramentos que ela pode trazer. O tema da adolescência, portanto, permanece aqui apenas um tema superficial mal tocado.

Então, sobre o que é o filme? Um misto de trabalho de memória e superação do luto. Mas, novamente, a forma e o conteúdo não se encaixam perfeitamente. Se fechar as portas pelos ecos das lembranças é uma ideia muito boa, ela é muito pouco explorada nesse trabalho de memória, servindo apenas à forma. A tendência atual dos filmes japoneses de animação é baseado no “nós” ao invés de “eu”. Ou seja, os personagens servem como um objeto no qual cada um de nós pode se projetar. Mas Shinkai parece levar isso ainda mais longe aqui, com uma narrativa baseada em “todos nós”, gastando muito tempo desenvolvendo cada personagem secundário, mostrando diferentes lados do país, estabelecendo basicamente uma espécie de retrato geral do Japão. Mesmo que isso signifique perder o fio condutor ao abandonar o desenvolvimento de Suzume. Porque ao exagerar na descrição geral, o filme também perde o que poderia torná-lo único. Em vez de desenvolver adequadamente um personagem onde o “nós” é projetado nela, ele retrata esse “nós” de maneira quase literal, destilando-o ao longo do filme e evitando assim um investimento real em Suzume.

Suzume no Tojimari
©Suzume no Tojimari

E, finalmente, a moral. Infelizmente, estamos na continuação lógica de O Tempo com Você, com uma moralidade semelhante um tanto desajeitada. Especialmente no fato de que esse trabalho de memória não coincide com o desenvolvimento de Suzume, que está pronta para arriscar um segundo desastre (e que esse desenvolvimento é trazido um pouco apressado). Tudo através de um positivismo um tanto inapropriado. Pois, se o verme oferece uma metáfora bem-sucedida para representar o grande trauma do Terremoto de 2011, porém Fukushima se vê delegada como uma “simples” ruína como as outras já mostradas ao longo do filme. Se a vontade foi boa, o resultado é mais desajeitado na forma como é apresentado: um simples adereço a serviço do entretenimento.

Suzume no Tojimari
©Suzume no Tojimari

Suzume é, portanto, um filme que oferece entretenimento e diversão de primeira aos espectadores, mas que peca ao não explorar adequadamente a sua protagonista e os temas que tenta abordar. Apesar de contar com belos cenários, fotografia belíssima e uma trilha sonora cativante, o mesmo se perde ao tentar abraçar todo o Japão e desenvolver muitos personagens secundários, deixando pouco espaço para o desenvolvimento emocional de Suzume. Além disso, a moralidade apresentada no final parece desajeitada e apressada, e a representação do desastre de Fukushima é superficial. Embora Suzume não seja um filme ruim, não chega nem perto do impacto emocional e narrativo de obras anteriores de Makoto Shinkai, como Your Name. No entanto, é louvável o esforço do diretor em trazer à tona as memórias de um evento traumático na história recente do Japão.


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