Análise Definitiva: Trigun Stampede Um anime novo para uma grande obra

Josué Fraga Costa
(Redator)
Trigun Stampede
©Trigun Stampede

Trigun é um anime consagrado dos anos 90, conhecido por sua grande animação à época, grande ação, enredo forte, bem narrado, e personagens com muita personalidade, MAS, não deixou de ser um anime dos anos 90 que só uma turma com uma certa idade ainda lembra, e gerações mais novas talvez não conheçam o marco que a obra foi no passado. Trigun Stampede fora repaginado para 2023 numa espécie de reboot, misturada com remake, e nesta análise você terá uma ideia do que o anime apresentou sobre uma grande obra das animações.

O que é o novo Stampede?

Trigun Stampede
©Trigun Stampede

Creio que vale ressaltar um ponto fundamental desta análise, temos de separar para questões de análise Trigun Stampede de 2023, do Trigun original de 1998, por quê? É necessário compreender o que o novo Stampede traz para agregar à obra e seu significado para com o público, e na minha humilde opinião, ele serve para apresentar a obra para uma turma mais nova que sequer era viva à época para conhecer, e nada mais! Ele apresenta o mesmo enredo, só que agora mostrando mais a relação dos irmãos Vash e Million Knifes, explorando de maneira mais séria sobre a origem de ambos, e seus objetivos na estória, enquanto o Trigun original desenvolve isto de maneira visível, porém mostrando outros detalhes da obra, como o mundo onde os personagens estão inseridos, personagens e objetivos secundários, fora que ele o faz ao longo de 26 episódios, contra os 12 episódios da nova versão. Ou seja, o novo tem bem menos tempo para se mostrar de maneira mais detalhada, você observa claramente isto ao notar que os acontecimentos são bem discorridos, mas passam bem rápido, como de relance, para que lá por volta do oitavo episódio, o espectador já tenha compreendido o tom da obra e chegue de fato ao olho do furacão.

Trigun Stampede
©Trigun Stampede

Vejo que com as mudanças, proporcionalidades tiveram de serem aplicadas para que não se tornasse apenas uma repetição, assim como foi com Fullmetal Alchemist: Brotherhood, que basicamente replicou 1/3 de Fullmetal Alchemist de 2003 com leves retoques aqui e ali. Um exemplo bem visível disto é o protagonista central da obra, Vash, que no primeiro é um “insano controlado”, e agora vemos este traço dele, mas a obra foca em dar o tom mais cinzento e profundo dele da animação original, com um tom diferente que a obra aborda, seus personagens seguem o mesmo caminho. Vemos mais disto na apresentação dos personagens secundários, o Nicholas D. Wolfwood tem sua linha de acontecimentos mais aprofundada aqui, vemos que ele foi uma criança órfã e foi selecionado para um experimento, que ocasionou que ele se tornasse um adulto de maneira bem mais acelerada, e o mesmo é feito com outros personagens para que compreendamos melhor o núcleo da obra. O que representa Trigun são suas batalhas absurdamente impactantes em seu mundo e sua natureza ríspida, além de como o mundo funciona, e vejo que isto está presente na nova versão, como anime próprio, Trigun Stampede é um bom anime, mas não funcionou como reboot ou remake, mas ficou num meio termo diferente, pois apresentam os personagens de uma perspectiva bastante diferente, que pode não agradar os fãs natos da obra, mas que pode agradar os novos, porém não tenho certeza se os novos fãs se interessariam pelo anime original.

Entrega bem o conteúdo, mas com ressalvas

Trigun Stampede
©Trigun Stampede

O novo anime está mais para ponte ao antigo ao explorar certas coisas que o anime de 1998 não mostrou, como a irmã mais velha de Vash e Million Knifes, que é abordada no mangá, mas que passa batida no anime, só que aqui em Stampede vemos uma imagem dela em uma foto, por parte do médico que acompanha Million Knifes, que acaba servindo de estopim para que ele siga seu plano de domínio das plantas independentes, para além da própria situação destas plantas que é melhor explorada. Se há algo pra ser destacado deste novo anime é exatamente isto, por mais que as diferenças com o anime original não agradem tanto, como ponte para o antigo, ele já faz um bom trabalho, relembro da proporcionalidade que falei anteriormente, por mais que o Vash não seja mais aquele insano por fora, e o visual dele é bem mais moderninho e extravagante do que o anterior, o interior dele não foi substituído, e este novo tom dele casa com a proposta do anime, o humor é consideravelmente reduzido, mas não esquecido. As cenas de ação não ficaram para trás e não denigrem a obra original, honrando bem a boa ação e belas cenas do primeiro Trigun, bem como o detalhe da devastação e aspereza do mundo situado.

Trigun Stampede
©Trigun Stampede

Mas outros detalhes ficaram meio deslocados e com pontas soltas, como a dupla da Maryl Stryfe, tínhamos a figura incrivelmente carismática da Milly Tompson, a Maryl sendo a baixinha furiosa e séria, a Milly sendo a figura moe, carinhosa e acolhedora, fora que é gigante se comparar com uma mulher de meros 1,45 de altura, mas qualquer um fica grande perto dela. Agora fomos introduzidos a um personagem feito especialmente para o novo anime, o Roberto, que é o superior da Maryl pela agência, mas que acaba morrendo nos últimos episódios, a figura dele é presente, mas a dinâmica não é tão boa quanto a da dupla original, e nos últimos momentos do último episódio vemos que a existência da Milly não é apagada, mas agora ela se transforma na novata de Maryl, ou seja, se fez um novo personagem que mais serviu de escada do que importante para os acontecimentos dos episódios. Este é um detalhe das coisas cinzentas do anime, como disse no tópico anterior, como anime próprio ele consegue ser bom, mas fica nesta área cinzenta, servindo mais de ponte do que para qualquer coisa, mas mesmo assim, poderiam terem mudado menos detalhes e ser mais específico no que ele quer mostrar, ao invés de apresentar novidades inócuas para a estória.

Stampede não deixou de ser Trigun

©Trigun Stampede
©Trigun Stampede

Mas como um todo, o anime é muito bom de se acompanhar, o andamento dos episódios é legal, abordam o que precisa de ser abordado para aquele momento, desenvolvem inteiramente e então concluem o segmento, dando continuidade fluida, não se arrasta e fica se remoendo, você conhece o enredo logo, sabendo que Vash e Million Knifes são plantas independentes, estas sendo criaturas únicas com poderes de criação, podendo manipular a matéria, sendo usadas pelos humanos para a sobrevivência da espécie após a Terra ter sido destruída pelo descontrole da humanidade, o que faz Million se irar e recusar que mais plantas fossem usadas para tal, e Vash indo contra o irmão, e esta ideia é bem trabalhada nos episódios. Eu diria que o novo anime serve também como complemento para o antigo, mostrando melhor este lado com mais detalhismo para o espectador, com boa animação e supreendentemente em 3D, e um 3D muito lindo, a produção foi bem mais longa do que o habitual por conta disto, a modelagem demorou incríveis 4 anos, tanto dos personagens quanto dos cenários, e só aí começaram a animar tudo isto junto, demorou para chegar mas entregou muito bem o que mostrou, honrando o primeiro anime, e reconheço como fã antigo da obra, que conseguiram transmitir todo o feeling do 2D para o 3D, apesar de preferir o 2D, o 3D fez um bom trabalho na narrativa da obra.

Trigun Stampede
©Trigun Stampede

Os cenários transmitem bem o feeling da obra, o deserto árido e quase sem vida com sua imensidão, até as cidades mais distantes quase que fantasmas são bem mostradas, fora o contínuo espaço com seu sci-fi ao mostrar a dupla de irmãos centrais da estória. Seja a boa iluminação e dimensão dos cenários abordados, seja a boa textura e traços dos objetos e personagens abordados aqui, o grafismo da obra é lindo e combina com o tom que o anime aborda, a trilha sonora também segue o mesmo caminho e entrega bem na ambientação da obra, você percebe isto na cara quando em Jeneora Rock uma trilha de faroeste toca, e quando no espaço, uma trilha eletrônica de lounge vem à tona. Uma boa ambientação transmite o valor da obra em todo o seu potencial, e Stampede faz isto com primazia.

Expectativas

Trigun Stampede
©Trigun Stampede

Assim como eu citei nas Primeiras Impressões que fiz sobre Trigun Stampede, as mudanças não me agradaram pois já sabia que muitas dinâmicas seriam perdidas, mas ele atua bem como uma ponte e complemento para o original, surpreendeu que o 3D é bem feito, quando ele foi anunciado a uns 6 anos atrás eu fiquei com os pés pra trás ao saber que seria um 3D, mas as surpresas servem para te revelar o coelho saindo inteiro da cartola, e o desenvolvimento das ideias é pleno e não há lacunas, e não desonram o passado como reboots dos EUA fazem, como o slogan do PES 2016 diz, “Love the past, play the future”, ame o passado e se jogue no futuro. Só tenho dúvidas se este novo anime conseguirá a estimular que o novo público assista ao antigo, mas ele não estraga aquilo que já fora instaurado.

Notas

Trigun Stampede
©Trigun Stampede

Animação: Sem dúvidas ou exageros, uma das melhores de 2023, é o 3D que te surpreenderá pela qualidade que raramente entrega, esperar 5 anos compensou; 10

Arte Gráfica: Eu gostei, foi proporcional à proposta do anime, o design dos personagens não foi grotescamente alterado, a Maryl ainda usa um par de brincos de ouro e é baixinha, Million Knifes é temoroso e implacável, e o visual que a obra traz ainda te lembra que é Trigun, ela pode não agradar os fãs mais velhos da obra, mas é inegável que ao assistir, você se sente em Trigun; 9.0

Personagens e Enredo: O tom do novo anime foi para o lado mais sombrio que o antigo também tinha, mas que se mesclava e muito bem com um bom humor seinen, porém Vash segue sendo o estouro da boiada, e Million Knifes é o vilão de fato e complemento bem na dupla de irmãos, então aos fãs mais velhos da obra, fiquem tranquilos, não há trocas no eu lírico dos personagens e suas personas, o único ponto negativo é de ter apenas 12 episódios, tudo é bem desenvolvido, mas poderiam entregar mais; 8.5

Trilha Sonora e ambientação: Como a animação, ela cumpre seu dever em trazer o núcleo da obra para o espectador com boa qualidade, o deserto é imenso e arrasador, as reações dos personagens casam com o clima decorrente da obra; 9.0

Dublagem: Assim como o primeiro, Stampede veio dublado para o Brasil, há um mix de vozes conhecidas e desconhecidas, mas a qualidade não é afetada por isso, o ponto negativo vem pela demora e não-sincronização com o lançamento dos episódios, estavam uns três episódios atrasados em relação ao lançamento global, só a Crunchyroll tem como melhorar isto, de resto, podemos ver bem aos detalhes da obra por ter vozes em português; 8.0

Geral: Tanto para os fãs mais assíduos, quanto para a turma mais nova, Trigun Stampede é um baita anime a ser visto, a trama original não foi deturpada, como outras obras que vão aparecendo por aqui no Ocidente, e apresentou uma narrativa de acordo, mudanças proporcionais, bom roteiro e andamento da saga. 8.9

Veredito

Trigun Stampede
©Trigun Stampede

Trigun Stampede como anime é muito bom, mas como complemento poderia ser algo mais, e como ponte ele conduz para a obra original, agrada ver os episódios por ser manter fiel ao que Trigun é, um sci-fi pós-apocalíptico que discorre na postura em relação a sua própria natureza de ser, e Stampede não esquece disto, não ignora a profundidade do enredo e segue firme nisto, aos que ainda não conheciam da obra, ainda creio que possa ser um pivô para se aprofundar, mas para quem já conhecia, o medo de deturparem a obra ficou para trás. Eu recomendo que assistam, não é mais um anime, e se compararmos com outros lançamentos regulares, Trigun Stampede se destaca do resto, é um bom sci-fi, a tocada seinen é mantida da obra original, as mudanças não denigrem a obra, e posso atestar que ela agrada a ambos, os fãs de animes quanto aos fãs de Trigun.


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