Como fazer um remake? Urusei Yatsura dá uma aula de como se fazer um remake decente!

Josué Fraga Costa
(Redator)
Urusei Yatsura
©Urusei Yatsura

Em uma de minhas últimas matérias, aqui na Anime United eu falei muito sobre remakes e similares e citei o seguinte: “acaba por alterar também a percepção do espaço tempo em que ela originalmente fora estabelecida’’, e disse isto por conta da percepção que tive de assistir a obras antigas e perceber como a coisa em si funcionava na época além da qualidade geral, desde a qualidade da filmagem (em casos dos live actions) ou da animação, até a trilha sonora e enredo se comparado com obras mais novas. Até porquê se olharmos para o passado, vemos que há filmes, séries e animações que estão em um nível de qualidade que até superam suas contrapartes mais novas, vejam o exemplo de Ben-Hur, o filme foi uma adaptação de um romance lançado em 1880, e o filme foi lançado em 1959 e foi um sucesso de bilheteria, tendo custado US$ 15,2 milhões de dólares e só de bilheteria ter ganho US$ 146,9 milhões de dólares, teve um remake lançado em 2016 com a participação do brasileiro Rodrigo Santoro que interpretou a Jesus Cristo, tendo gasto US$ 100 milhões de dólares e não ter conseguido sequer se pagar na bilheteria, tendo tido um rendimento de apenas US$ 94 milhões de dólares, sendo um fracasso e não sendo sequer uma sombra à versão original de 1959. Se compararmos um com o outro entendemos o porquê disso, um foi lançado em 1959 tendo uma produção gigantesca contando com mais de 15 mil figurantes, 200 artesões para roupas e cenários, 200 camelos, 2,5 mil cavalos, 300 cenários, tudo isso em 4 horas que mais parecem 2 horas, com tantos detalhes e conteúdo de sobra, contra um remake que não chega nem de longe ao que o original foi.

Metro-Goldwyn-Mayer/Ben-Hur
©Metro-Goldwyn-Mayer/Ben-Hur

E infelizmente essa tem sido a tendência dos remakes, não conseguirem trazer consigo a essência do original e nem a mesma qualidade e impacto do original, por conta do exemplo que dei de Ben-Hur, cada época em si tem sua maneira de como se fazer uma obra, e tentar comparar um a outra, acaba sendo quase que impossível se não inviável dependendo da obra, mas Urusei Yatsura conseguiu dar uma aula de como se fazer um remake decente e transmitir a essência original sem gritaria e com qualidade única.

Há 4 pontos que o remake da obra de Rumiko Takahashi conseguiu fazer e que dá aula de como se fazer algo decente.

Traços mantidos, identidade reconhecida

Uma das várias mudanças que fizeram remakes serem quase que expurgados pelos fãs foram alterações aos traços ou designs dos personagens, como trocar a cor ou etnia de um ou mais personagens, além dos traços que definiam o personagem, aqui a obra brilha em manter de maneira fenomenal os traços exatos de maneira que a atual tecnologia de animação pudesse deixar ainda mais refinada e palatável para o padrão mais moderno e sem deturpar nenhum personagem. Em animações são os traços, em ‘live actions’ são as características de um ator/atriz ao personagem, pois são eles que geram a identidade visual da obra para os fãs, e manter uma identidade é crucial para o sucesso de algo, sem uma identidade nada é reconhecido por ninguém, e é bom ver nos dias atuais essa fidelidade ao conteúdo original, já que por alguma coisa as pessoas por trás dos remakes não conseguem seguir a uma receita já feita por alguém, e quando seguem a receita direito tem de ser reconhecido e admirado.

Pierrot,Studio Deen/Urusei Yatsura
©Urusei Yatsura

Sendo igual e diferente ao mesmo tempo

Uma outra coisa que não me atrai muito em remakes é o simples fato de que eu já vi tudo o que fora mostrado, eu revejo o mesmo anime como muitas pessoas fazem, até aí tudo normal debaixo do sol, mas rever algo que foi refeito tudo de novo não me atrai por conta do que a versão original já me fez sentir, lembrar e me atrelar à estória em si, na mesma coisa com os jogos, por mais que num primeiro momento ter um jogo que você curtiu muito com gráficos e física melhores seja tentador, logo em seguida você começa a lembrar do original como era e fica em um limbo de sensações, só que aqui há algo que seria contraintuitivo, ser igual e diferente ao mesmo tempo, aqui estão algumas imagens comparando as cenas do primeiro episódio e seus acontecimentos, mostrando como a disputa pela defesa da Terra é realizada, no remake acontece num estádio e no original na rua.

David Production/Urusei Yatsura (2022)
©Urusei Yatsura (2022)
Urusei Yatsura
©Urusei Yatsura

As cenas tem alterações de espaço e tempo em relação à primeira versão sem alterações ao enredo em si, mas por exemplo, a Lum é mais amável e suave ainda que com um pouco de ciúmes na primeira versão, na nova versão ela é mais agressiva e possessiva, porém, sua característica original não foi alterada, e sim adicionada à ela. Acontece que na década de 80 havia uma tendência de personagens femininas mais amáveis e um pouco ingênuas, ainda que fortes e capazes, hoje a tendência das tsunderes já está mais consolidada e conhecida em tudo que é anime, foi uma jogada que eu reconheço como bem feita, chama o público atual para uma obra mais antiga de maneira que a percepção da original não seja alterada.

Formato diferente, tocada igual

Serão ao todo 46 episódios em duas temporadas de 23, bem menos do que os 195, que eu falo nas Primeiras Impressões de Urusei Yatsura, são cada vez menos os animes que tem uma penca gigantesca de episódios disponíveis no mercado por N motivos diferentes, e a grande realidade é que seguir a uma quantidade de centenas de episódios se tornou menos palatável para a maioria das pessoas, incluindo os próprios japoneses, os animes com mais episódios por temporada estão na faixa de 20/25 episódios, uma quantidade boa para colocar o enredo e personagens de Urusei Yatsura sem perder a essência do original, o suficiente para manter o público entretido e sem ter a sensação de alterações no espaço-tempo da obra, ou seja, por mais que tenha menos episódios e menos exibições do enredo e de seus personagens, o núcleo da estória em si será mantido, conseguindo ser atrativo para uma audiência mais nova que se acostumou com este formato, sem comprometer a obra em si.

Urusei Yatsura
©Urusei Yatsura

Honrando as origens

Outro detalhe que me faz ter uma certa aversão aos remakes é a coisa de querer melhorar algo que em si não precisa de melhorias pois já fez o seu dever de casa e teve seu impacto à época que fora lançado, o que em várias vezes acaba desfigurando tudo o que sabemos e reconhecemos da obra em si, e aqui Urusei Yatsura novamente se destaca de outros remakes, ao invés de tentar ou somente melhorar a animação ou querer se diferir do original, ele abraça o original em todos os seus detalhes, como a introdução com detalhes do mangá e da animação original, os clássicos encerramentos de Lum permaneceram bem, os personagens permanecem os mesmos, a estória é a mesma, foi como um carro antigo sendo redesenhado para a atualidade e que deu certo.

Urusei Yatsura (2022)
©Urusei Yatsura (2022)

Conclusão

Resumindo, se um remake consegue manter a identidade original, se adequar sem se desfigurar, ser o que de fato é, e ao meu ver se o mesmo quer ter espaço e ser bem sucedido entre os fãs, basta seguir a receita já feita e conseguir transmitir a obra do jeito que ela é, sem querer inventar moda ou escandalizar. Urusei Yatsura sim dá uma aula de como se fazer um remake, nos tempos atuais sem deixar de ser o que é, atrair um público mais novo e que sequer era planejado de nascer na época em que fora lançado o anime original, sem deixar de ser fiel ao público alvo da obra, e seguir tendo seu espaço neste concorrido mercado audiovisual!

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