Opinião: O mau do anacronismo na arte Alterar detalhes dos personagens pode parecer algo tranquilo, mas é mais prejudicial do que parece!

Josué Fraga Costa
(Redator)
Anacronismo
© Anacronismo

Se tem uma coisa que ultimamente tem me deixado verdadeiramente chateado tem sido o proselitismo barato que tentam vender através de filmes, séries, animes e etc. E com proselitismo eu quero dizer, propagandas de cunho político partidário, ideologias sociais e etc. Pois geralmente quando ocorre ele sempre deturpa a obra como um todo e acaba sempre afastando as pessoas, pois sempre gera uma discussão inútil entre as pessoas sobre algo igualmente inútil, isso quando não gera intrigas porretas com direito a xingamentos, assassinato de reputação e por aí vai. Se uma obra midiática ao invés de gerar interesse nas pessoas gera repulsa, e se ao invés de gerar boas discussões entre as pessoas e uma ligação entre os fãs gera brigas e desunião, é um bom sinal de que algo de errado está ocorrendo com aquela obra, e não estou falando de maneira rasa somente de fãs fazendo tempestade em um copo d’água ou dourando a pílula entorno de algo que não existe, um exemplo é quando começam a falar de um relacionamento de personagens que não existe de fato, estou falando de certas atitudes que foram sendo apresentadas e que estão se tornando cada vez mais maçantes de se aturar, existem várias, desde diretores e atores atacando a base de fãs de alguma obra, por não saberem receber uma simples crítica, até a alteração de personagens já estabelecidos, e é deste em específico que falarei hoje, pois se há algo que a arte não precisa são de pessoas anacrônicas alterando a arte concebida por um artista.

A moda da vez hoje é: refazer, repensar e reimaginar as obras já consagradas entre os fãs, criar se tornou algo raro de acontecer já que para se criar algo é necessário junto também abraçar a responsabilidade sobre o que está sendo criado para que assim ele se comprometa a estabelecer uma relação direta para com o espectador, pois do que adianta fazer algo sem ter em mente quem o consumirá e dará relevância e atenção? E com a cultura do hype e de um consumismo desenfreado em nossa sociedade ocidental, criar algo do zero basicamente se tornou inviável por uma questão de tempo que não existe mais para que o pessoal por trás das câmeras, a se dizer, editor, desenhista, animador, colorista, engenharia de som, diretores e etc para fazerem seus trabalhos com qualidade. E o anseio para se faturar o mais rápido possível simplesmente força a barra desse pessoal por conta das produtoras, e o resultado? Obras horrendas que ninguém lembrará, lotadas de defeitos amadores, e claramente deslocadas do querer do público. Basta ver a grande lista de jogos que foram sendo lançados nos últimos anos lotadas de bugs, gráficos inferiores à plataforma, e que para a surpresa de ZERO pessoas, fracassaram em alcançar público e até mesmo a se pagar, posso citar desde Battlefield 2042, até os PES e FIFA mais recentes, e isso se segue também à 7ª arte.

Anacronismo
© Anacronismo

O problema não é simplesmente quase que ninguém está querendo criar algo novo dentro de um gênero artístico, pois isso já mostra que a criatividade está sofrendo grande repressão, o problema é quando o fazem com intensões que não condizem com suas respectivas obras. O ‘refazer’ é algo estranho, o que fora feito já está feito, por que então refazer? Mesmo quando se é feito pelo autor original (seja pra realçar os gráficos ou visual, estes dois limitados somente para jogos e animações) e lançá-los a um público mais novo que não acompanhou no período original de lançamento são no máximo toleráveis, como o remake de Urusei Yatsura, o original fora lançado em 1978 e o ‘remake’ em 2022, com menos episódios e uma animação melhorada, que apesar de não ter alterado a arte conceitual original, acaba por alterar também a percepção do espaço tempo em que ela originalmente fora estabelecida. Sempre que vejo animações antigas ou quando jogo algum jogo do passado, eu também gosto de perceber o todo que o faz, o gráfico e as animações e seus estilos de época para tentar aproveitar a 100% a experiência, pois isto sempre gera também inspirações para obras ainda melhores em todos os quesitos, e tudo isto é perdido neste processo.

O ‘repensar’ é absolutamente perigoso, imagine que um personagem de um filme seja tímido e acanhado, que constantemente hesita em fazer algo ou que simplesmente não faz nada por conta deste jeito, de repente é transformado em alguém com atitude e sendo bastante extrovertida, imagine as dinâmicas de relacionamento, acontecimentos e as personas de outros personagens que teriam de ser alteradas por consequência, o filme teria o mesmo impacto e qualidade? Ou até mesmo, teria o mesmo público? Se pergunte isto constantemente ao ver algo que fora repensado por alguém, pois se aplica também a imagem e percepção que você terá sobre a obra como um todo, além de sua qualidade e relevância, e se você não curtir a ideia de repensar sobre algo já feito, você entenderá meu ponto. O reimaginar vai na mesma linha do repensar, só que agora ao invés de alterar o design e persona de um ou outro personagem, ele transforma a obra como um todo e altera desde a sua linha de tempo original da estória até mesmo os acontecimentos nela introduzidos, basicamente toda a mensagem e proposta originalmente colocados são jogados de lado em favor de algo totalmente diferente, imagine uma obra que relate algo situado no reinado de Genghis Khan na Mongólia, com todos os seus habitantes daquele local naquela época e sua respectiva cultura, e de repente alguém altera local e tempo para algo nos dias atuais, seria a mesma coisa? Receio que não. O reimaginar é exatamente isto.

Star Trek Discovery
©Star Trek Discovery

Todos eles tem se espalhado assustadoramente por todo tipo de conteúdo midiático, principalmente aqui no Ocidente e é algo que me preocupa por uma coisa importantíssima, que é a alteração da obra de um artista que dedicou sua vida naquilo para transmitir alguma mensagem para as pessoas e que com esta alteração pessoas não venham a conhecer esta mensagem e tão pouco compreender a importância dela. Imagine se de repente usam Star Trek para puro panfletarismo identitário? A não, já fizeram em Star Trek Discovery com tanta propaganda de identidade e foco 0 no que Star Trek de fato é, que seria a descoberta do longínquo espaço, os exemplos são tantos que seria cansativo colocar todos em um único artigo.

Infelizmente este anacronismo vem se espalhando a um ritmo assustador e tem pago seus dividendos, quantos filmes não tem tido prejuízos nas bilheterias e quantas séries não tem tido seus cancelamentos anunciados logo após seu lançamento? Os exemplos não são poucos e tem sido constantes como nunca antes na história, a se ver o exemplo do fracasso da adaptação filmada de Cowboy Bebop que a Netflix lançou no final de 2021, e que em apenas duas semanas de seu lançamento ela foi cancelada pela própria Netflix pela baixíssima audiência que atraiu, pois quem é fã de fato não sentiu nada pela série que desfigurou seus personagens principais e jogou uma bela estória no lixo, e sequer atraiu públicos diferentes, conseguindo fracassar em todas as frentes de trabalho.

Mas qual o objetivo de fato de alterar as obras já feitas por alguém ou alterar a história real do mundo? Auto projeção! Em uma entrevista de Hideaki Anno, criador da grande obra de Neon Genesis Evangelion, ele foi indagado da seguinte forma: “Quais partes você não gosta?”, quando perguntado de sua obra, e ele respondeu: “as partes em que me vejo!”. Assista ela de maneira integral aqui: https://www.youtube.com/watch?v=ShzeysuxWTQ&ab_channel=rodyen.

Hideaki Anno
©Hideaki Anno

Imagino o porquê dele ter dito isso, como seres humanos, quando nos vemos no espelho temos uma tendência a olhar para dentro de nós e nos vermos da maneira mais crua, e sentimos vergonha desta imagem. Isto indica que uma auto projeção não é a melhor das formas de exposição de uma obra em que se tenta explanar sobre algo ou transmitir uma mensagem, pois algo que nos é íntimo dificilmente encontrará quem goste disto, logo, você entende que quando uma obra tenta ser uma auto projeção daqueles que estão por trás dela são rejeitadas aos montes e não encontram espaço no imaginário do público.

E se tem uma coisa que cada vez menos tem tido tolerância no dia-dia é alguém tentando forçar goela abaixo algo que não condiz com a realidade e valores de outras pessoas, desde religião e ideologias político-sociais, até culturas, culinárias e vestuário. E é aqui que vamos chegando no olho do furacão, pois como eu coloquei anteriormente, se uma obra midiática ao invés de gerar interesse nas pessoas gera repulsa, e se ao invés de gerar boas discussões entre as pessoas e uma ligação entre os fãs gera brigas e desunião, é um bom sinal de que algo de errado está ocorrendo, e assim como um time de futebol existe em função de seus torcedores, e que um músico/cantor vive por conta de seus fãs, na mesma serve para qualquer obra. De um lado já estão fazendo o que se pode fazer, que é não dar mais audiência para qualquer obra anacrônica e que descarta seus fãs além de desrespeitar o autor e sua obra, mas do outro lado temos pessoas que contribuem para tanto anacronismo.

Os prints a seguir mostram um tipo de anacronismo mais comum dentro das fandoms, que são pessoas que trocam a persona e o design de personagens e falam que isto é apenas uma arte de um fã, que não é nada demais, quando na verdade, aparecem pessoas que não curtem isto e são taxadas injustamente de preconceituosos por aqueles que fizerem estas tais “artes de fãs”. Não sou daqueles malucos que acham normal ter de censurar algo por um “bem maior”, mas se tem algo a se combater neste tipo de situação dentre os fãs de animes é NÃO DAR AUDIÊNCIA para este tipo de coisa. Assim como roteiristas e diretores de filmes que escandalizam com proselitismos nos filmes estão sentindo o que acontece quando se desrespeita os fãs e a uma obra, que é a perda do público com cinemas vazios e baixa audiência nos streamings e televisões.

Anacronismo
© Anacronismo
Anacronismo
© Anacronismo

Entendam algo, independente da moral e valores que você acompanha e vive, alterar qualquer obra de alguém para que se adeque aos seus valores ou que altere a percepção de algo já ocorrido para um espaço tempo diferente, isto é anacronismo e precisa ser combatido a todo custo, por quê? É por conta dele que atitudes de censuras ocorrem, um exemplo preto no branco disto é a censura de animes ecchi, por pessoas que creem que isto é sexualização e outras coisas mais, por pessoas que na vida real gostam de pornografia e similares, ou pessoas que se dizem antirracistas e que alteram as cores originais de personagens por puro proselitismo racial. Nós devemos combater atitudes assim por trazerem intrigas aos fãs, por sempre gerarem discussões imbecis e que não adicionam nada na comunidade e que não atraem pessoas novas para a comunidade, se virem pessoas que alteram cor, sexualidade, religião, nacionalidade e outros detalhes da persona além do propósito da obra em si, não as censure, pois estará fazendo aquilo que eles o fazem e não estará sendo diferente deles, apenas os ignorem para que aprendam a lição de que as grandes produtoras de conteúdo tem sentido com tantos prejuízos de títulos próprios. Mas saiba que alterar detalhes de qualquer natureza para satisfazer a sua moral e ideologia não é saudável para si e tão pouco aconselhável para com o público de determinada obra, pois lembre-se que se um autor decidiu que um determinado personagem terá determinada personalidade e design é por que ele crê que aquilo casará com a proposta de sua obra, e alterá-la por puro capricho de alguém que não aceita esta concepção original está por tabela desrespeitando o autor e suas ideias, além de estar indo contra uma legião de fãs que curtem a obra e seus personagens daquela forma.

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