O anime sobre isolamento social em uma época de isolamento social Welcome to the NHK e sua filosofia em cima dos sentimentos confusos e profundos de um hikikomori

Bolinhodearroz
Welcome to the NHK
©Gonzo/Welcome to the NHK

“Quando você pensa em anime, pensa em otaku. Quando você pensa em otaku, pensa em pessoas que não gostam de outras pessoas! Essas pessoas se tornam hikikomori!”

Se você, assim como eu, também está mantendo o isolamento social nessa época de pandemia, então esse anime é ideal para passar o tempo durante a quarentena. Welcome to the NHK (ou NHK ni Youkoso!) foi produzido em 2006 pelo estúdio Gonzo, baseado na light novel homônima de Tatsuhiko Takimoto, a obra nos mostra a vida e as experiências de Tatsuhiro Satou, um jovem de 21 anos que vive sozinho e recluso da sociedade há 4 anos.

As coisas começam a mudar quando Satou conhece Misaki Nakahara, uma garota que promete salvá-lo dessa vida se ele aceitar entrar para o projeto dela através de um contrato. Enquanto isso, ele também reencontra um antigo colega de escola (por acaso seu vizinho), Kaoru Yamazaki, que faz faculdade de design de jogos e é um otaku assumido do gênero bishoujo, juntos eles passam a planejar iniciar uma empresa de jogos galge (apenas uma forma de chamar os jogos bishoujo) e serem reconhecidos por isso.

O enredo se inicia a partir desses encontros e agora tudo irá partir do ponto em que o protagonista luta para buscar sair de sua vida “confortável” (como ele mesmo aponta), porém prejudicial para si próprio. A verdade é que Satou acredita que tudo é uma grande conspiração da NHK (Nihon. Hikikomori. Kyokai.) para que se isole de tudo, sempre nos mostrando através de ápices de alucinação do personagem.

Para Satou, o simples fato de sair na rua e encarar as pessoas, com todos seus comentários, é muito assustador. Juntando ao fato de acreditar em uma conspiração, ele se adequou à vida de hikikomori (uma pessoa que vive reclusa em casa e nunca sai) e cada aparição em público traz episódios intensos de ansiedade.

Como já dito, é a aparição de Misaki que revira a vida dele de cabeça para baixo. Ela oferece que ele participe de seu projeto que promete salvá-lo da vida de hikikomori, mas para isso ele precisa assinar um contrato e sempre cooperar com os aconselhamentos dela nos encontros marcados. No entanto, Satou tenta de tudo para não ter que assinar o contrato com Misaki, incluindo entrar em uma parceria com Yamazaki para criar um jogo e mostrar para a garota que ele não tem nenhum problema e não é um recluso sem emprego. Dessa forma, são muitas as loucuras que acontecem, até que ele se encontra novamente com sua antiga senpai, Hitomi, onde ele revê tudo que passou e decide aceitar o contrato de ser salvo da vida de hikikomori

Análise

Welcome to the NHK
©Gonzo/Welcome to the NHK

É muito interessante ver os dilemas existenciais e sentimentais que o protagonista sofre no decorrer da história, ele claramente sabe que nada daquilo faz algum bem para si mesmo, porém não consegue abrir mão da vida hikikomori dele. Portanto, trata-se de um anime do gênero Seinen/Slice of life, em que o enredo não possui ação ou qualquer coisa relacionada à aventura, ainda assim é muito interessante para quem gosta do gênero e de animes com um toque mais realista e humanizado.

Dessa forma, temos aqui uma comédia psicológica adulta que nos prende ao acompanharmos a vida reclusa de Satou e como ele busca negar publicamente, embora saiba o quão problemático é tudo isso e continue a fugir de qualquer tipo de ajuda. Talvez, justamente por não ser um enredo de ação e ter uma qualidade mais antiga, algumas pessoas podem acabar abandonando o anime logo de início, entretanto, recomendo MUITO para quem gosta de olhar o desenvolvimento emocional e o amadurecimento dos personagens. Ver Satou lidando com as situações do cotidiano e das pessoas à sua volta, como um ser humano com problemas reais com a sociedade, é fascinante e nos faz enxergar muitas coisas sobre a vida adulta.

Por conta de seu estilo, assuntos mais sérios passam a ser abordados durante a história, como: vício em jogos e pornografia, pressão social, parental e como a vida adulta é sufocante (sobretudo no Japão que é sempre rígido em vários aspectos), dilemas existenciais, romance, surtos de ansiedade e até suicídio. Tudo isso misturado a uma trilha sonora adequada, leve, que se equilibra com o clima do anime, além de possuir tons humorísticos na medida certa.

Welcome to the NHK
©Gonzo/Welcome to the NHK

É impossível não se amarrar ao enredo à medida que os episódios passam, além de torcer por Satou e seu amigo Yamazaki que buscam ter sucesso na indústria de jogos galge. Assim podemos entender que, ser um hikikomori não é apenas uma simples “escolha”, mas sim a única solução que algumas pessoas encontram para fugir de toda a pressão que as cercam (esses são os que não recorrem ao suicídio e sabemos que essa taxa, no Japão, é assustadora). Acreditem, pois a reclusão social é muito mais comum, real e problemática do que imaginamos, nos fazendo ter uma determinada identificação durante esse tempo de pandemia com o qual precisamos nos isolar totalmente do mundo exterior. Inclusive, no segundo episódio ele fala uma frase que muitos de nós podem achar bem familiar nessa época de quarentena: “Outro dia chegando ao fim, outro dia desperdiçado. Quantas vezes mais vou repetir dias assim?”.

É sempre bom lembrar que o enredo é meio lento, mas nos mostra de maneira realista a situação de pessoas que possuem dificuldades de se relacionar socialmente, trazendo o crescimento de personagens durante o decorrer dos episódios e com um final muito profundo. Então fica aqui a deixa para assistirem o anime, visto que aqui não trabalhamos com spoilers, então não direi muito sobre os acontecimentos.

Welcome to the NHK
©Gonzo/Welcome to the NHK

No mais, o anime vai nos dar um belo enredo com os relacionamentos pessoais e o progresso de Satou para deixar de ser um hikikomori e aprender a conviver com as pessoas sem passar por todos os surtos que ele convive diariamente. Percebemos como a sociedade pode ser tão assustadora para um hikikomori e como eles são duramente criticados por todos e considerados como problemas até para a economia, sem trabalhar e sem estudar, já que não oferecem nenhum retorno.

Mas então vemos Mizaki se esforçando para ajudá-lo e a evolução do relacionamento entre ambos, fazendo com que ele entre em inúmeros dilemas sobre sua vida e como mudá-la.

Sendo assim, assista apenas se estiver em um estado psicológico adequado, pois este anime nos mostra que a realidade é muito mais dura do que pensamos, não é recomendado para pessoas sensíveis a todos esses tópicos. Podemos concluir, portanto, que a sociedade japonesa (e o mundo, em geral) é extremamente estressante e essa história nos mostra tudo de uma forma bem peculiar, cutucando todos nós para refletir não apenas sobre a alienação que vivem os japoneses, mas também a nossa.

Tudo isso para mostrar que, isolar-se da sociedade não é muito saudável, menos agora na pandemia, se pode ficar em casa, então FIQUE EM CASA!

Agora, comentem aí, o que vocês estão sentindo nessa época de quarentena? Se identificam com Satou de alguma forma?


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